Francisco canonizou aquele que é apontado como a sua referência maior: Angelo Giuseppe Roncalli, ou João XXIII, o Papa que convocou o Concílio Vaticano II (1962-65) trouxe o catolicismo para o século XX. Não por acaso, o antigo secretário particular de Roncalli, Loris Capovilla, disse em fevereiro que agora “estamos vivendo verdadeiramente a aurora anunciada por João XXIII: nenhum medo”. O dinamismo e as atitudes que Francisco tem trazido à Igreja Católica desde a sua eleição apontam para a recuperação de dimensões obliteradas do Concílio: atenção à vida das pessoas e aos sinais da presença de Deus no mundo (os “sinais dos tempos” de que falava João XXIII), uma preocupação maior com o acolhimento das pessoas do que com as regras, a participação de todos na vida e na missão da Igreja, a ação eclesial centrada na proposta de Jesus Cristo e nas “periferias ” e não na própria instituição…
Para o Papa Francisco, mais do que um novo cânone, o Concílio é um dado adquirido, uma inspiração para que a Igreja seja cada vez mais fiel ao Evangelho que diz anunciar. Tal como João XXIII quando criticava os “profetas da desgraça”, Francisco quer uma Igreja que condene menos e proponha mais, com mais misericórdia e menos “alfândegas pastorais”. E quer também uma Igreja que seja mais povo de Deus, tal como entendida nos documentos do Concílio, e menos hierárquica. Em relação a João Paulo II, Francisco canonizou o grande dinamismo apostólico de que também se sentirá herdeiro. Foi o Papa Wojtyla quem nomeou o então arcebispo Bergoglio, de Buenos Aires, como cardeal, em 2001. Durante a primeira metade do seu longo pontificado, o Papa polaco imprimiu à Igreja um vigor missionário impressionante.
Há outro factor que aproxima Francisco dos seus dois antecessores: Roncalli era amigo de judeus, ortodoxos e muçulmanos (e disse ao então embaixador soviético em Paris que ambos tinham em comum o serem “gordinhos “); já Wojtyla aproximou as duas religiões. Ora, Bergoglio mantém, desde há muito, contactos com judeus, protestantes e muçulmanos.