As Nações Unidas divulgaram recentemente um relatório que denuncia as atrocidades cometidas durante anos na Coreia do Norte. Conhecidos no ocidente pelo perfil impiedoso, Kim Jong-il e o seu pai Kim Il-sung são autores de livros para crianças no seu país.
A educação das crianças pela literatura, através de manifestações de orgulho pela pátria e ódio pelos inimigos do Estado, é uma característica comum a vários regimes ditatoriais. A Coreia do Norte não é exceção, e cedo os seus líderes constataram o poder dos livros na propaganda política.
“A Borboleta e o Galo” é um conto atribuído a Kim Il-sung, avó do atual líder, no qual um galo tenta destruir um jardim idílico e maltrata os restantes animais, até que uma jovem borboleta faz frente ao invasor e salva o dia.
Lee Hyeon-seo cresceu na Coreia do Norte e abandonou o país aos 17 anos. A sua memória dos livros infantis a que ela e as suas colegas de escola tinham acesso remete para batalhas heróicas de Kim Il-sung contra os japoneses. “Assim como histórias ridículas sobre o seu filho, como aquela em que Kim Jong-il mata vários inimigos com cinco anos de idade”, conta.
Depois de uma infância alegadamente passada a matar inimigos, Kim Jong-il, o “Querido Líder” falecido em 2011, é também autor de histórias para crianças. “Rapazes Eliminam Bandidos” é uma delas, um livro que conta a história de “reacionários, ladrões e glutões, escondidos nas montanhas da Coreia do Norte, que tentam desencaminhar os virtuosos aldeões de corações puros que encarnam os valores tradicionais da ideologia Juche”.
A ideologia Juche, desenvolvida por Kim Il-sung, vê no homem o poder e a responsabilidade para fazer da revolução um sucesso, isto é, valoriza a autonomia e independência da Coreia do Norte face aos poderes internacionais.
A discrição deste “conto extremamente violento e exuberante” é feita por Christopher Richardson, que estudou a literatura infantil da Coreia do Norte. Apesar da crítica, o investigador da Universidade de Sidney admite que esta pode ser uma história “bastante divertida de ler”.
Kim Jong-il é também autor de uma tese sobre literatura na qual dedica um capítulo ao género infantil. Segundo o antigo líder, o uso de parábolas e sátiras para criticar os inimigos do Estado é um tema a favorecer nos livros para crianças.