Dezenas de apoiantes e colaboradores de um dos jornais mais liberais da China protestaram esta segunda-feira em redor da sede do mesmo, o Semanário Sulista (Nanfang, em chinês), da província de Guandong.
A mensagem “Queremos liberdade de imprensa, constitucionalismo e democracia” podia ler-se em alguns dos cartazes presentes.
Esta manifestação, acontecimento raro neste país, decorreu em apoio a uma igualmente rara greve organizada por jornalistas em protesto contra a censura exercida pelas autoridades.
O protesto teve início quando o editorial da edição de ano novo do jornal, que apelava à garantia dos direitos constitucionais, foi transformada numa apologia ao partido comunista.
35 ex-membros (de relevo) da redação assim como 50 estagiários assinaram duas cartas que dirigiram a Tuo Zhen (chefe de propaganda da província de Guangdong), pedindo a sua demissão, acusando-o de ser “ditador” numa era de “transparência crescente”.
Os média chineses são supervisionados pelos chamados “departamentos de propaganda” provinciais, que frequentemente editam o conteúdo das publicações para que este esteja em harmonia com as ideologias do partido comunista.
Na noite da véspera desta manifestação, apareceu uma mensagem no microblog do jornal em questão, a negar que o editorial tivesse sido mudado devido a pressão censória. Mas estas atualizações teriam, alegadamente, sido publicadas por membros da redação que não assinaram as cartas dedicadas a Tuo Zhen. Isto levantou conflitos dentro da redação, da qual cerca de 100 membros declararam greve, afirmando que o jornal está sob pressão por parte das autoridades.
Ao Jiayang, um dos manifestantes presente na segunda-feira declarou à Reuters que o “Grupo de média Nanfang está relativamente disposto a falar a verdade na China” e que, por isso, é “preciso realçar a sua coragem e apoiá-lo agora”.
Apesar de pesquisas contendo os termos “Semanário Sulista” efetuadas na versão chinesa do Twitter, o Weibo, terem sido bloqueadas e a das contas de redes sociais de alguns jornalistas chineses influentes terem sido apagadas (de acordo com a AFP), uma porta-voz do ministério dos negócios estrangeiros do país garante que “não existe censura de notícias na China”.
Na última publicação do Índice de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras, a China surge colocada na 174ª posição, em 179.