Enquanto, ao longo da última semana, se revelavam os enormes estragos que a tempestade Sandy procovou na costa nordeste dos EUA, foi-se percebendo, também, que se houve uma candidatura a marcar pontos com esse imprevisto, foi a dos democratas. Por várias razões: a tragédia de Nova Jérsia e Nova Iorque permitiu a Barack Obama assumir uma postura presidencial em nome de todos – conquistando elogios do governador republicano de Nova Jérsia, Chris Christie, e do conservador, mas independente, mayor de Nova Iorque Michael Bloomberg; a Superstorm Sandy (como aqui ficou conhecida, depois de se abandonar uma versão mais hollywoodesca: Frankenstorm) provou ainda a importância e utilidade de uma instituição federal como a FEMA (Agência Federal de Gestão de Emergências) que Romney ameaçou extinguir se fosse eleito, transferindo as suas competências para os Estados e instituições de caridade.
Na última sexta-feira, 2, a divulgação do relatório oficial (do Labor Department) sobre emprego em Outubro, com um aumento acima do previsto de novos postos de trabalho (171 mil) também pode ter ajudado o presidente Obama a descolar ligeiramente em sondagens que têm dado os candidatos praticamente empatados a nível nacional e nos Estados decisivos – os swing states, também conhecidos como purple states (sendo púrpura a mistura do vermelho republicano e do azul democrata): Florida, Colorado, Ohio e Virginia.
É precisamente no norte do Estado da Virginia, mesmo ao lado da capital Washington DC, que nos encontramos. De acordo com todas as sondagens, este é o swing state mais empatado do momento. Em Arlington é fácil descobrir as sedes de campanha das duas candidaturas. Bem, na verdade uma delas é mais fácil de descobrir que a outra… Os republicanos estão acantonados num sétimo andar de um prédio de escritórios onde nada, no exterior, anuncia a sua presença. Só depois de saírmos do elevador deparamos com a azáfama dos republicanos. Numa parede faz-se a contagem dos dias que faltam para “a vitória” e em cima do balcão da recepção duas pequenas abóboras (uma decoração ainda relativa ao Halloween que se celebrou na noite de 31 de outubro) foram batizadas como Mitt e como Paul [Ryan, candidato à vice-presidência].
Mas, à vista desarmada, o coração deste quartel-general está numa sala onde, neste momento, cerca de 20 mulheres, com uma média de idades acima dos 40 anos, fazem telefonemas. Há uma cacofonia de cumprimentos (“Hi, my name is…“) e agradecimentos (“Thank you…“). Este é um dos métodos mais usados pelas duas campanhas: telefonemas para convencer indecisos e motivar os seus apoiantes a irem mesmo votar. Também há brigadas de voluntários que fazem isso porta a porta, calcorreando as ruas. Numa folha colada na parede vê-se o campeonato de voluntários mais eficientes, como em qualquer empresa comepetitiva: só em Outubro um tal de Edward Newland fez 8997 telefonemas, seguido de longe por Luis Luna com 5872… O empenho é tanto, nesta fase final da campanha, que nenhum dos voluntários é autorizado a perder tempo falando com jornalistas.
Não muito longe dali, em Columbia Pike, encontramos uma das 5117 sedes de campanha de Barack Obama espalhadas pelo país. A primeira diferença é óbvia: está num pequeno edíficio com uma grande montra virada para a rua, revelando tudo o que acontece lá dentro. À entrada, como um statement, somos recebidos por um pequeno Elmo disfarçado de Big Bird (o Poupas, em Portugal, personagem da Rua Sésamo, que se tornou um símbolo da campanha depois de Mitt Romney prometer grandes cortes no serviço público de televisão que transmite a série infantil) ao lado de um cartaz que garante que as mulheres apoiam Obama. Mais uma vez, a acção concentra-se nos telefonemas de dezenas de voluntários (aqui com uma média de idades claramente mais jovem).
Mas quem está a sair, depois de uma sessão de telefonemas, não é propriamente a mais nova das voluntárias: Madeleine Albright, 75 anos, a primeira mulher a ocupar o cargo de Secretária de Estado dos EUA (entre 1997 e 2001, na era de Bill Clinton) habitante da Virginia e atualmente professora na universidade de Georgetown foi dar uma ajuda à campanha de Obama. Também aqui há contagens na parede: a de “doors knocked in Arlington“, ou seja, casas visitadas pelos voluntários para convencerem os eleitores a irem votar. O objetivo era alcançar 142 mil; já iam 81446. Num país tão colossal, mais do que na profusão de cartazes e brindes em ruas e comícios, as campanhas concentram-se nestas sessões de telefonemas (que podem começar logo às 6 da manhã!) e visitas porta a porta. Depois de meses em ambiente de campanha eleitoral, e da dramatização dos últimos dias, não admira que muitos eleitores se tenham sentido solidários com a criança que chora, num vídeo (em baixo) que esta semana se tornou viral no YouTube, porque já está farta de “Bronco Obama e Mitt Romney.”
* O jornalista Pedro Dias de Almeida está em Washington DC ao abrigo do programa José Rodrigues Miguéis da FLAD (Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento)