O toque de telemóvel mais popular do Egito retrata bem o clima político do país: “Nego categoricamente todas as acusações”, eis as palavras do ex-presidente Hosni Mubarak na primeira sessão do seu julgamento, a 3 de agosto, agora usadas pelos seus compatriotas para exibirem o seu júbilo pelo destino do octogenário rais (chefe), forçado a demitir-se há seis meses. Em setembro, o homem que governou impunemente durante 29 anos voltará a comparecer perante a justiça. Um julgamento onde terá de responder pelo destino dos 846 shuhadaa (mártires), abatidos durante os 18 dias (25 de janeiro-11 de fevereiro) de protestos no Cairo, Alexandria, Suez e outras cidades. E ainda pelos abusos de poder que levaram a acusação a apresentar 5 mil páginas com as “provas” dos crimes de Mubarak e dos seus colaboradores mais próximos, incluindo os seus filhos Alaa e Gamal. Trata-se de um processo histórico. É a primeira vez que um chefe de Estado árabe é colocado na posição de réu e julgado no seu próprio país sem influências externas ao contrário do que sucedeu no Iraque, com Saddam, em 2006, e na Tunísia, com Ben Ali, condenado à revelia a 35 anos de prisão em junho, exilado na Arábia Saudita. Mubarak habilita-se agora a uma pena que pode ir dos 15 anos à execução por enforcamento, mas não parece disposto a assumir o papel de bode expiatório de todos os males do antigo regime. Por isso a sua defesa arrolou 1600 testemunhas, sem esquecer o marechal Hussein Tantaui, ministro da Defesa duas décadas e personagem que dirige de facto o país…
* Platon Antoniou, fotógrafo greco-britânico, de 42 anos, conhecido pelos seus retratos de líderes mundiais. Este seu trabalho resulta de uma parceria com a Human Rights Watch e realizado no Cairo, na primavera de 2011, publicado pela primeira vez na Europa pela VISÃO, na sua última edição