António Costa pode ir aos Açores, por causa do furacão “Lorenzo”. Rui Rio diz que não se pode parar o vento com as mãos. E as sondagens, pode-se?…
A Nazaré pode esperar
Mário Soares tinha, na Nazaré, um dos seus principais bastiões políticos. Foi um dos seus governos que deu luz verde à construção do porto de abrigo, reclamado há décadas pelos pescadores, e isto num tempo em que o País mal tinha dinheiro para obras públicas, muito antes da adesão à CEE e do acesso aos respetivos fundos estruturais. Em janeiro de 1986, foi ali que o então candidato presidencial fez campanha, tomando o seu banho de multidão, para carregar baterias, horas antes de se dirigir ao território hostil da Marinha Grande, onde a famosa agressão terá virado as sondagens a seu favor. Esta terça-feira, António Costa cancelou a visita de campanha à vila piscatória, deixando pendurada toda a estrutura local do PS. Em vez disso, antecipou o programa de amanhã, visitando as obras do IP3, já no distrito de Viseu. O primeiro-ministro ponderava ter de deslocar-se aos Açores, dependendo da intensidade e dos estragos do furacão “Lorenzo”, que passaria, de madrugada, pelas “Ilhas de Bruma”.
A visita às obras do IP3 era muito mais importante do que a Nazaré, um concelho onde o cenário eleitoral pouco poderá mudar. Sem poder fazer inaugurações, neste período, Costa preferiu dar ênfase a uma obra que já foi lançada e iniciada e servirá o Interior, tão esquecido pelos principais partidos, nesta campanha. Viseu, tal colmo Leiria (distrito onde se situa o concelho da Nazaré) é considerado, historicamente, uma espécie de “cavaquistão”, mas uma vitória do PS naquele círculo não seria inédita, sendo que, com as coisas localmente equilibradas e o Bloco de Esquerda à espreita, o último deputado eleito pelo distrito pode fazer a diferença…
A lição de Pedro Santana Lopes
Instado a comentar esta alteração, e pronunciando-se sobre a eventual deslocação de Costa aos Açores, por causa do furacão, Rui Rio, embalado por sondagens dia a dia mais favoráveis, lembrou, quem sabe se metaforicamente, que “não se pode parar o vento com as mãos”… Pedro Santana Lopes, entretanto, ainda antes de saber desta mudança no programa de Costa, lançava-lhe uma farpa: “O António Costa, em campanhas eleitorais, é assim… Vai-se a baixo das canetas”. Santana referia-se, talvez, ao histórico de 2015, quando o PS, partindo para a campanha, como favorito, acabou por perder para a PàF – como cruelmente lembrou ontem Catarina Martins. Atormentado pela falta de arranque do Aliança, que teima em não descolar de pouco mais de meio por cento, nas sondagens, Santana mostra-se combativo: “ Mesmo que tenhamos um mau resultado, havemos de sobreviver, com certeza absoluta”. Vem a propósito elogiar a humildade democrática do antigo primeiro-ministro do PSD, que esteve no debate dos pequenos partidos, na RTP, não virando a cara à troca de ideias com líderes desconhecidos, uns, popularuchos, outros, pitorescos, os seguintes e sem qualquer traquejo político, quase todos. Dir-se-á que também Marcelo Rebelo de Sousa já teve de debater com o Tino de Rans, mas isso foi num debate de presidenciais, onde se encontravam, também, os seus principais adversários. A humildade de Pedro Santana Lopes é surpreendente e dá uma lição de cidadania a todos os políticos portugueses autoconsiderados “pessoas importantes”.
Rui Rio e o regresso ao preto e branco
Entusiasmado, Rui Rio, depois de ter anunciado o seu Centeno para as Finanças (Joaquim Miranda Sarmento), revelou hoje quem será o seu ministro da Agricultura, caso ganhe a pugna eleitoral e venha a formar Governo. Nada mais nada menos do que Arlindo Cunha, que sucedeu, em 1990, a Álvaro Barreto, nessa mesma pasta, e fez, depois, quase todo o trajeto (até 1994) do terceiro Governo de Cavaco Silva (e o segundo com maioria absoluta). Radicado em Tábua, onde lançou uma elogiada marca de vinhos, Arlindo Cunha não deixa de ser uma espécie de regresso “à televisão a preto e branco”, num partido que Rui Rio afirma querer renovar…
Os bombos de Assunção
Em Viana do Castelo, Assunção Cristas pretendia “conversar” com os eleitores, com quem contactava, mas uma popular deu-lhe outro conselho: “Conversar?! Deixe-se disso! O que o povo quer é chouriço e bombos! Faça mas é barulho, arranje uns bombos!” E Cristas lá fez o possível, tentando tornar António Costa o bombo da festa e voltando a fazer barulho sobre Tancos. A líder do CDS quer saber se o presidente da AR, Ferro Rodrigues, já enviou ao Ministério Público (MP) as declarações de Azeredo Lopes e de António Costa à comissão parlamentar de inquérito sobre Tancos. Esta quarta-feira, uma conferência de líderes deliberará se sempre se convoca o debate da Comissão Permanente da Assembleia, sobre o tema, como pediu o CDS. A atualidade deu uma ajuda a Cristas, no dia em que ficou a saber-se que o MP ponderou ouvir, como testemunhas, o Presidente da República e o primeiro-ministro, e só foi travado pelo diretor do DCIAP, que julgou essas diligências “desnecessárias”.
Este foi o dia em que, em Braga, Catarina Martins ergueu como sua a bandeira dos cuidadores informais. Podia dizer que, além de social-democrata, o BE é democrata-cristão, já que, em janeiro, a propósito da lei de bases da Saúde, Assunção Cristas reclamava, no Parlamento, a “valorização e integração do papel dos cuidadores informais”…
Jerónimo de Sousa esteve à saída de uma fábrica, na Azambuja, onde recordou o seu próprio percurso como operário: “Mal tínhamos tempo para sermos crianças… Entrávamos muito cedo na fábrica”. Se a experiência de vida rendesse votos, a CDU já tinha ganho. Mas falta ao PCP umas obras de autoestrada para lançar e visitar…