Cicatrização ocular e possível cegueira, inchaço das extremidades e imobilização, falta de digestão, desnutrição, anemia e cansaço são apenas algumas das consequências que uma infeção por parasitas pode ter, além de poder aumentar também o risco de cancro e sida. E segundo Karl Hoffmann, especialista em parasitologia da Universidade britânica de Aberystwyth, neste momento, 25 a 30% dos humanos estão infectados com, pelo menos, uma espécie de parasita.
Entre todas as doenças possíveis causadas por parasitas, a mais relevante é a esquistossomose e é contra ela que a equipa de investigadores liderada por Hoffmann está a apontar as suas baterias, no sentido de desenvolver estratégias de controlo, numa altura em que, sublinha o especialista, este tipo de infeções está lenta mas inevitavelmente a caminho da Europa, fruto das alterações climáticas e da mobilidade global.
Num artigo que assina no The Conversation, Hoffmann explica que a esquistossomose – que é provocada pela infeção com o verme plano esquistossomo – afeta centenas de milhões de pessoas por ano, provocando milhares a centenas de milhares de mortes.
A infeção acontece quando há contacto com certos tipos de caramujos (caracóis de água doce) que produzem esquistossomos capazes de penetrar rapidamente na pele humana e desenvolver-se nos vasos sanguíneos que rodeiam os intestinos ou a bexiga.
Cada fêmea produz diariamente centenas a milhares de ovos que, uma vez nos órgãos humanos, levam a inflamações, cicatrizações, descompensações de fluídos, anemia, podendo mesmo provocar a morte.
Havendo ovos nos intestinos e na bexiga, parte deles sai pelas fezes e pela urina. Se chegarem a um ponto de água pode, podem eclodir e libertar esquitossomos capazes de infetar os caracóis e… repete-se o ciclo.
A doença é tratada eficazmente com praziquantel, mas o especialista sublinha que a falta de investigação para encontrar uma alternativa representa uma ameaça em caso de a esquistossomose se tornar resistente ao medicamento. A equipa da Universidade de Aberystwyth tem passado, por isso, as duas últimas décadas a estudar a doença e um estudo publicado no Plos Pahtogens mostra como duas proteínas têm um papel determinante na biologia do parasita, abrindo campo para interferir na produção da ovos e assim travar a infeção em humanos.