A unidade fabril da Stellantis situada em Mangualde, vai começar a produzir versões eletrificadas dos modelos Peugeot e-Partner, Citroen e-Berlingo, Opel e-Combo e Fiat e-Doblò, já a partir de 2025, anunciou o CEO do grupo automóvel, o português Carlos Tavares.
Numa cerimónia – que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro, António Costa, do ministro da Economia, António Costa Silva, e da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva – Carlos Tavares garantiu que fábrica, terá capacidade para “produzir até 55 mil veículos elétricos por ano”, mas admite que o ritmo de fabrico estará “dependente da evolução da procura”.
O gestor afirma que a Stellantis tem “uma liderança muito forte” no mercado dos veículos comerciais ligeiros, onde é número um na Europa. “Em Portugal temos uma quota de mercado de 43% neste segmento e de 54% se consideramos apenas os elétricos. Quando esta transformação avançar, nós estaremos na linha da frente porque já temos a experiência acumulada” disse.
Em paralelo, e no sentido de avançar para a neutralidade carbónica que, segundo o gestor, o grupo deverá atingir em 2038, a Stellantis irá avançar com investimentos em Mangualde para que a fábrica consiga ter, já no final deste anos, uma produção própria de energia limpa (eólica e solar), equivalente 30% das suas necessidades, valor que aumentará para 80% em 2025.
Este projeto insere-se na agenda mobilizadora GreenAuto, criada para promover a eletrificação e digitalização da indústria automóvel nacional. No total, serão investidos 119 milhões de euros, plano que conta com o apoio do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e no qual estão envolvidas 37 entidades nacionais.
A instalação de uma nova linha de montagem para carros elétricos nesta unidade fabril do distrito de Viseu irá criar mais 450 postos de trabalho que se somarão aos 850 já existentes.
“Esta decisão não foi tomada por eu ser português, mas sim numa lógica de meritocracia do grupo. Entre todas as fábricas do Grupo, Mangualde surge sempre entre o top 3 em todos os campos de avaliação”, justificou Carlos Tavares.
Para o primeiro ministro, esta anúncio de Carlos Tavares “significa não só a continuidade futura desta unidade, mas também o seu desenvolvimento e o potencial de crescimento da indústria automóvel no nosso País”.
Antonio Costa referia-se à diretiva europeia que obriga que, a partir de 2035 não possam ser vendidos veículos com motor de combustão. Ou seja, todas as fábricas de automóveis que não produzem veículos elétricos poderão ter de fechar as portas nessa data.
A Stellantis da Mangualde é o segundo maior fabricante de automóveis em Portugal. No ano passado saíram das suas linhas de montagem 77 422 veículos, o equivalente a 24% da produção automóvel nacional. No primeiro lugar surge a Autoeuropa, que em 2022 conseguiu atingir os 231 mil veículos, sendo o T-Roc, o terceiro carro mais vendido na Europa no ano passado, o grande responsável pelo bom desempenho da fábrica.
Produção automóvel em Portugal
2021 | 2022 | |
Autoeuropa | 210 754 | 231 100 |
Stellantis Mangualde | 67 838 | 77 422 |
Fuso Tramagal | 9 392 | 10 890 |
Toyota Caetano | 1 947 | 2 969 |
Caetano Bus | 23 | 23 |
Total | 289 954 | 322 404 |
O grande desafio neste momento da fábrica de Palmela é garantir, tal como fez Mangualde, o fabrico de pelo menos um modelo elétrico para que possa assegurar a atividade para lá de 2035.
Caso isso não aconteça, o impacto será grande na economia portuguesa, pois esta unidade fabril do Grupo Volkswagen garante cinco mil postos de trabalho diretos, gera 1,5% do PIB português e representa 4% das nossas exportações. Além disso, haverá ainda um efeito indireto na indústria de componentes para automóveis, uma vez que 56% dos equipamentos, peças e materiais usados para produzir o T-Roc são fornecidas por empresas portuguesas.
Acelerar até 2026
Marcelo Rebelo de Sousa, que recentemente deixou alguns “recados” ao Governo sobre os prazos de execução dos projetos abrangidos pelo PRR, disse na vista a Mangualde que a execução destes fundos “é uma corrida contra o relógio” atendendo ao prazo que termina em 2026. “Pode ser que a Comissão Europeia prolongue os prazos, mas não devemos contar com isso”, alertou o Presidente da República.
Para o chefe de Estado, Portugal “tem de acelerar o que puder ser acelerado” em relação aos projetos que estão no âmbito do PRR e que “visam apoiar agendas mobilizadoras de futuro e resolver problemas sociais de quem ficou para trás”.
António Costa que garantiu que “até agora o Governo tem estado a cumprir e temos razões para acreditar que cada meta e cada marco estabelecido vão sendo cumpridos. Há um cronómetro que está a contar. Os projetos do PRR têm de estar concluídos até 31 de dezembro de 2026, que é já depois de amanhã, por isso temos de manter este ritmo”.
O primeiro-ministro realçou que, em termos de execução dos projetos do PRR, “Portugal é, entre os 27 estados-membros da União Europeia, o quinto país mais avançado”.
A Stellantis resultou da fusão da PSA, que agrupava as marcas Peugeot, Citroen, Opel e DS, com a FCA, que conta com a Fiat, Chrysler, Alfa Romeo, Jeep, Lancia, RAM e Dodge, entre outras. É atualmente o terceiro maior grupo mundial do setor automóvel em termos de volume de negócios, só perdendo para a Volkswagen e Toyota. No ano passado, atingiu uma faturação total de 180 mil milhões de euros, um crescimento de 20% face a 2021, e lucros recorde de 16,8 mil milhões. Face a este desempenho, a empresa anunciou que iria distribuir um valor total de 2 mil milhões de euros dos lucros pelos seus 280 mil colaboradores em todo o mundo, o equivalente, em média, a 7 142 euros por funcionário.