“É um orçamento misterioso.” Manuela Ferreira Leite caracterizava assim o documento entregue esta segunda-feira por Fernando Medina no Parlamento. Porquê? “Não me recordo de um orçamento elaborado num ambiente de tanta incerteza como este.” Há, neste comentário, uma crítica velada ao cenário macroeconómico projetado pelo Governo, que conta com um crescimento real da economia de 1,3% em 2023 e quebra da inflação para 4%. O ministro das Finanças afirma que, não sendo este o cenário mais adverso, “é para esse que temos de nos precaver”. Até porque o risco de estas contas saírem furadas é elevado, como ficou demonstrado pelas projeções feitas pelo Fundo Monetário Internacional um dia após a entrega da proposta do Orçamento do Estado. Esta instituição prevê um crescimento de apenas 0,7% em 2023 e apresentou uma estimativa mais gravosa do que a do Governo para a inflação, avisando que o pior para a economia mundial ainda está por chegar.
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Perante esses riscos e o elevado grau de incerteza, o ministro das Finanças entregou um orçamento precavido, que não desagrava totalmente a perda de poder de compra já sentida pelos portugueses – a que se soma o aumento das taxas de juro no próximo ano –, mas que contribui para o não agravamento do já difícil contexto para famílias e empresas. Afinal, e nas palavras do ministro das Finanças, “nenhum governo consegue compensar tudo”.