“Queremos a paz ou o ar condicionado ligado?” A questão foi posta em cima da mesa pelo primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, para demonstrar o que pode estar em jogo num eventual embargo ao petróleo e ao gás russos. As vendas dessas matérias-primas – na sua maioria a países da UE – têm permitido a Putin continuar a financiar a sua máquina de guerra e evitar que as sanções que já foram aplicadas pelo Ocidente quebrem o rublo e paralisem a economia russa. A forma como o antigo presidente do Banco Central Europeu colocou a pergunta até pode indiciar uma vontade de fazer “whatever it takes” para comprometer a capacidade financeira de Moscovo de financiar a guerra. Mas noutras geografias – com a Alemanha à cabeça –, a resposta está longe de ser assim tão simples.
“Não vejo, de todo, que um embargo acabasse com a guerra. Se Putin fosse recetivo aos argumentos económicos, nunca teria começado esta guerra insana”, afirmou Olaf Scholz numa entrevista recente à Der Spiegel. Além da questão da eficácia de um boicote à energia russa, o chanceler alemão tem invocado também o argumento da dor económica: “Queremos evitar uma crise económica dramática, a perda de milhões de postos de trabalho e [o encerramento] de fábricas que não iriam voltar a abrir.” Após anos de decisões de política energética que estreitaram a ligação com Moscovo – contra os avisos de várias entidades e especialistas que apelavam a uma maior diversificação –, a Alemanha tornou-se um dos países europeus mais dependentes do gás e do petróleo russos. O peso deste fornecedor nas importações de gás germânicas aumentou de 36% para 65% entre 2010 e 2020, segundo contas da VISÃO baseadas nos dados mais recentes do Eurostat.