A indústria do golfe em Portugal, fortemente alicerçada nos turistas britânicos, está em suspenso com a decisão de Portugal ficar ou não de fora dos corredores aéreos do Reino Unido.
Por cá, o golfe vive essencialmente dos golfistas estrangeiros que representam cerca de 85% das receitas do setor, absorvendo os britânicos um peso de 70% desse percentual.
A pandemia obrigou ao encerramento de praticamente todos os cerca de 100 campos que existem no Continente e Ilhas em plena época alta deste desporto, que ocorre entre março e maio. O desconfinamento e a reabertura das fronteiras trazia alguma esperança de minimizar as perdas e toda a atenção está agora centrada nesta decisão.
“Para Portugal e em particular para o Algarve, os cidadãos do Reino Unido são fundamentais pois representam o maior contingente de turistas durante o ano. Para o produto Golfe, este mercado especificamente, chega a atingir cerca de 70 a 80% do total dos jogadores estrangeiros que jogam na região algarvia. Se não tivermos turistas britânicos nos próximos tempos será uma catástrofe para o setor do golfe”, alerta o Presidente do Conselho Nacional da Indústria do Golfe (CNIG), Luis Correia da Silva.
O surto de Covid-19 veio cortar um ciclo excecional para o mercado golfista. No ano passado, o impacto direto gerado pela prática do Golfe na economia Portuguesa atingiu os 135,3 milhões de euros mas os indiretos e os induzidos, onde se incluem a restauração, hotelaria, entre outros, é quase dez vezes superior. “Estamos a falar de cerca de 1.060 milhões de euros, envolvendo cerca de 17 mil postos de trabalho no total (dos quais 3.000 diretos). E o ano de 2020 não podia ter começado da melhor forma com o setor a crescer a dois dígitos em janeiro e fevereiro, na ordem dos 15%, em comparação com o ano passado. E muitos campos já tinham bastantes reservas para a segunda época alta do ano, entre setembro e outubro, pelo que tudo indiciava que este seria um ano excecional se não fosse a pandemia”, lamenta-se o presidente do CNIG, acrescentando que as estimativas de perdas são na ordem dos 80 a 85% em relação a 2019.
Um valor tão elevado que leva o responsável a temer o pior caso o Estado não assegure uma solução que sirva de balão de oxigénio durante os tempos difíceis que se avizinham.
“Mais de 80% das empresas do setor estiveram em lay-off simplificado mas, ao contrário dos hotéis que encerram e ficam com custos de manutenção mínimos, no golfe não é assim, estamos a falar de entidades vivas – os custos de manutenção são elevados pois a relva tem de ser cortada, os campos adubados e regados todos os dias. Cerca de 80% dos custos de manutenção são mantidos havendo ou não jogadores”, sublinha o responsável.
O presidente da CNIG dá o exemplo da empresa que administra, o Dom Pedro Golf, com cinco campos todos no Algarve, entre os quais o premiado ‘Victoria Golf Course’, em Vilamoura: “Dos cinco campos apenas um está aberto, outro vai abrir e três estão encerrados. Normalmente nos meses de maio tínhamos em média 200 jogadores em cada campo por dia. Neste momento não temos mais do que seis jogadores por dia e em apenas um campo. O impacto está a ser brutal… Só no nosso caso, estamos a falar em perdas de dois milhões por mês…”.
No ano passado, e em 79 dos 93 percursos de golfe que existem em Portugal, foram jogadas 2.017.532 milhões de voltas, segundo contas da CNIG. Se contabilizarmos uma média de três voltas por jogador, estamos a falar de 670 mil jogadores a visitar os campos de golfe em todo o país.
A esmagadora maioria dos campos existentes no país são comerciais, o que na gíria do golfe é chamado um campo ‘pay-and-play’, alimentados pelos turistas maioritariamente britânicos, alemães e escandinavos. Os campos que vivem de quotizações de sócios são apenas cerca de uma dezena em todo o país, entre os quais se contam por exemplo o do Jamor, o Oporto ou o da Curia e é aqui que se concentram os jogadores nacionais e os estrangeiros residentes no país.
“Certo é que a maioria dos campos de golfe corre riscos graves de tesouraria e consequentemente de sobrevivência pois estamos a falar de um período alargado sem receitas e com muitos custos de manutenção. As empresas apelam a que se garanta a continuidade do lay-off simplificado ou algum outro sistema de ajuda. Caso contrário vão acabar por falir”, rematou ainda o presidente do CNIG.