O Governo admite que a nacionalização da TAP é um cenário em cima da mesa, depois de os administradores privados da companhia terem inviabilizado as condições apresentadas pelo Estado para injetar até €1.200 milhões na companhia. “Estamos preparados para tudo, não vamos ceder na nossas condições. Estamos preparados para intervencionar e salvar a empresa. Faremos uma intervenção mais assertiva se o privado não aceitar a posição do Estado,” garantiu esta terça-feira no Parlamento o ministro das Infraestruturas e da Habitação.
Pedro Nuno Santos respondia à pergunta de uma deputada do Bloco de Esquerda, depois de esta manhã o Expresso ter avançado a notícia de que o Governo se preparava para nacionalizar a transportadora, no seguimento da recusa das condições impostas pelo Governo para injetar dinheiro na TAP por parte dos administradores da Atlantic Gateway, que se abstiveram na votação.
“Estas são as condições para metermos 1.200 milhões. Aceitam, vamos trabalhar em conjunto. Não aceitam, acabou,” afirmou Pedro Nuno Santos, que negou ainda a existência de um “braço de ferro” entre acionistas privados e Estado. Contudo, o ministro diz que vai ainda submeter a proposta diretamente ao parceiro privado, a Atlantic Gateway.
“Esse ‘braço de ferro’ (…) resulta da atitude intransigente que o Estado tem adotado na defesa do interesse público. Fizemos uma proposta com um conjunto de condições que defendem o País e o seu povo. Estamos disponíveis a salvar e intervencionar uma empresa importante para o Pais, mas o povo português quer assegurar um conjunto de condições mínimas, a conversão de créditos sobre a empresa, controlo de decisões tomadas sobe o dinheiro. Estamos firmes nisso,” garantiu.
Esta manhã o Expresso avançou que o Governo prepara a nacionalização da TAP, depois de a Atlantic Gateway, o acionista privado da companhia que detém 45% do capital, ter impedido na noite passada a aprovação do empréstimo de até 1.200 milhões já aprovado por Bruxelas. O jornal refere que a corda partiu do lado de David Neeleman, dono da Azul, que terá recusado o que o Estado pediu para aprovar o empréstimo. O Governo estará contra a presença do empresário no capital da transportadora e está a equacionar a manutenção do acionista português, Humberto Pedrosa, no âmbito da nacionalização que estará em avaliação.
Segundo o Expresso, o Governo quis fazer cair uma cláusula através da qual os privados poderiam recuperar os €227 milhões emprestados à TAP como prestações acessórias no caso de o Estado reforçar a presença no capital. Uma hipótese que terá sido recusada por Neeleman.
A notícia foi conhecida enquanto decorria a assembleia geral da TAP, um dia depois de a companhia ter reportado prejuízos de €395 milhões no primeiro trimestre do ano, motivados por despesas com hedging de combustível e efeitos cambiais num período já marcado pelo deflagrar da pandemia de Covid-19.
No Parlamento, o ministro considerou ainda que “seria um desastre do ponto de vista social e económico o país perder a TAP”, apontando o dedo ao que disse serem os “fanáticos religiosos da Iniciativa Liberal e do mercado livre acham que nos podemos dar ao luxo de perder a TAP, acham que a seguir vêm outras companhias. Deixávamos de ter exportações!”
“A TAP é demasiado importante para o País para a deixarmos cair. €1.200 milhões é muito dinheiro, temos de fazer gestão muito criteriosa. E isso impõe que demos uma dimensão que, não sendo uma TAPzinha, dê sustentabilidade futura”, acrescentou.