“Não posso pedir para extinguir portagens na Via Infante; para terminar a reabilitação da estrada nacional 125; uma política de mobilidade para a região; ou que o Governo olhasse para qual o montante que arrecada na região e quanto desses impostos é investido na região.” A frase irónica de Reinaldo Teixeira arrancou aplausos entre a assistência do VII Encontro Fora da Caixa. E na voz do administrador da Enolagest/Garvetur iam algumas das principais preocupações em torno da competitividade do Algarve.
A receita para melhorar a posição da região, marcada pela forte presença do turismo e pela sazonalidade desta atividade económica, não fica por aqui. No encontro promovido pela Caixa Geral de Depósitos esta terça-feira no Pavilhão do Arade, no Parchal, Algarve, os quatro empresários que debateram a atratividade da região pediram mais. Mais investimento em infra-estruturas, melhores ligações aéreas ao resto do País. E, de caminho, a criação de medidas de proteção ao emprego e de simplificação da burocracia.PUBLICIDADEinRead invented by Teads
“Hoje, criar emprego e orientar 2 mil e tal funcionários é um nível burocrático difícil de gerir,” lamentou Paulo Sousa, do grupo Hospital Particular do Algarve. Para este responsável, a principal limitação de funcionamento de um grupo com cinco hospitais e seis clínicas, com 2.200 funcionários espalhados pelo Algarve, Alentejo e Madeira, é mesmo a sazonalidade, que obriga a desenhar equipas em função da procura de cada época. “No Algarve o grande desafio é atrair profissionais de qualidade que se queiram deslocar. É preciso encarar a contratação como um projeto de ideias e inovação que permita aos médicos fixarem-se,” resumiu no encontro de que a VISÃO é parceira de media.
Também na António Raiado, uma empresa de distribuição de tabaco de Loulé com cerca de 80 empregados, a sazonalidade faz mossa. “No meu negócio temos 230% de crescimento entre os meses de menos e de mais vendas. A maior dificuldade é a oscilação de trabalho e carga de trabalhos a que as empresas estão sujeitas e manter equipas coesas,” admitiu António Raiado, sócio-gerente da empresa, que recorre a investimento em tecnologia para fazer face a estas oscilações.
Na Sopromar, um estaleiro náutico que começou por funcionar em Lagos e já estendeu a atividade a Algés, em Lisboa (não sem antes esperar oito anos por autorizações), combater os efeitos desta variação da procura ao longo do ano não foi tarefa fácil, reconhece Hugo Henriques: “Há muitos técnicos que temos de ter todo o ano e tivemos de arranjar estratégia para trabalho para todos. São trabalhos-âncora em que empresa abdica de parte da margem para cobrir custos. E temos de ser criativos, apontar a empresa para lacunas do mercado.” O gestor, que reclamou maior simplificação administrativa, defendeu ainda a criação de mais marinas, que funcionam como “centros embrionários para empresas” à volta das atividades marítimo-turísticas e de recreio.
Na rampa de lançamento de empresa de reparação de embarcações está já em curso um novo investimento financiado pela CGD, como revelou no evento o administrador executivo do banco público, Francisco Cary. Para este responsável, o investimento na área agrícola e em projetos de saúde, desporto ou congressos deve afirmar-se como complementar ao turismo na região algarvia, além do investimento na construção e no imobiliário, que deve – defendeu – continuar a ser estimulada. “Esta atividade tem beneficiado dos regimes que foram postos em prática, seja pelos Vistos Gold, seja pelo regime dos Residentes Não Habituais. E é importante que haja estabilidade nesses regimes, para que quem vem acabe por produzir rendimentos, gastar e investir na região,” concluiu.