As redes sociais não estão a fazer o suficiente para travar a disseminação de informações falsas e é preciso abrandar o ritmo de redifusão de mensagens e fazer uma regulação inteligente destas plataformas para evitar a manipulação de campanhas eleitorais, alertou esta quinta-feira o diretor tecnológico do Democratic Nacional Commitee (DNC).
“Eu próprio fui executivo de uma empresa de social media. É uma tarefa muito difícil, estou solidário com eles. Não creio que o que estejam a fazer seja suficiente,” afirmou Raffi Krikorian, responsável do órgão de gestão do Partido Democrata nos Estados Unidos, durante uma intervenção no arranque do último dia da Web Summit, em Lisboa.
Um dia depois das eleições intercalares que nos EUA devolveram o controlo da Câmara dos Representantes aos democratas e reforçaram a posição dos republicanos no Senado, Raffi até agora não tem evidência de qualquer ataque à estrutura – como terá acontecido nas eleições de 2016, alegadamente a partir da Rússia. Mas isso não quer dizer que não tenha ocorrido intervenção nos últimos dias.
“Um hack [ataque] é uma das coisas que não se consegue detetar, já a desinformação pode ver-se todos os dias a acontecer,” afirmou. “Um ataque sofisticado demora dias, semanas, meses a detetar. Estamos a começar a tentar perceber [se houve]. Estes ataques são muito difíceis de detetar, reagir e de planear respostas”.
Apesar de ter uma relação muito próxima com as plataformas das redes sociais para pedir a investigação de contas falsas ou a dispersão de informações não fidedignas, e de contar com voluntários que, a nível local, detetam estas anomalias, o responsável da DNC diz que não basta: é preciso um plano a longo prazo para as eleições nos EUA, uma questão que deve ser encarada como suprapartidária.
“Não é um problema algorítmico, é humano. Precisamos de humanos a resolver. É fácil fazer um retweet [redifusão de informação na rede social Twitter]. O que podemos é abrandar um pouco essa propagação, mais como no mundo real. Digerir primeiro o que se está a ler e não ser reativo,” argumentou.
Na interação com a jornalista Hadas Gold da CNN – a mesma cadeia de televisão a que pertence o jornalista Jim Acosta, que ontem ficou impedido de entrar na Casa Branca depois de uma discussão com o presidente Donald Trump -, Raffi pediu ainda uma regulação inteligente do mundo digital e incentivos para que haja melhor verificação da informação, mantendo as prerrogativas de liberdade de expressão. “Atualmente a internet é um lugar perigoso,” concluiu.