Satisfeito por “ter valido a pena levantar a voz”, Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto reagiu esta tarde, em conferência de imprensa, para saudar o governo por ter reconhecido que o “argumentário da candidatura do Porto à Agência Europeia do Medicamento (EMA) era melhor do que a de Lisboa” e reconhecer o mérito do Governo por ter voltado atrás na decisão inicial.
Consciente de que o Porto concorrerá com fortes rivais europeias – como Bona, Lille, Amesterdão ou Milão – , o autarca também chamou a atenção de que ainda “nada está ganho”. “É preciso agora preparar uma grande candidatura para que se transforme numa opção vencedora”, afirmou, realçando que essa tarefa agora já não é do Porto, mas sim de Portugal. Não será “um campeonato fácil” e terá de “envolver a diplomacia portuguesa”.
O Porto apresentou “uma candidatura musculada” com o apoio de Castro Alves, ex-presidente do Infarmed, responsável clínico do Hospital de Santo António e membro da Comissão Nacional de Candidatura. Rui Moreira salientou ainda o papel da InvestPorto, a agência de atração de investimento da autarquia, cuja diretora, Ana Teresa Lehmann, acaba de ser nomeada secretária de Estado da Indústria. Esta instituição – que além de fazer a ponte com potenciais investidores tem o cadastro dos terrenos e do edificado industrial disponível – foi muito importante na seleção dos vários edifícios que poderão vir a acolher a EMA. Contudo, agora a última escolha será feita à medida que decorre a candidatura.
A ênfase foi posta na necessidade da “dispersão geográfica” (Lisboa já tem duas agências europeias, a da Segurança Marítima e o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência) e nas infraestruturas existentes na cidade, como as universidades ou as escolas internacionais. “O Porto é uma cidade atraente, com uma ótima qualidade de vida e um custo de vida competitivo. E também não temos qualquer dificuldade de localização”, sublinhou Rui Moreira. “Foi uma candidatura preparada em 4, 5 dias e o Porto foi capaz de demonstrar que cumpria todos os requisito”, acrescentou Castro Alves.
Emídio Sousa, presidente do Conselho da Área Metropolitana do Porto também presente nesta conferência de imprensa, foi categórico: “Mais importante do que receber mais 50 ou 100 milhões de euros de fundos comunitários seria receber esta agência”. Um organismo que arrastaria a deslocalização de Londres para o Porto de cerca de 900 funcionários qualificados e de várias nacionalidades, mais as suas famílias, e daí a importância da existência de escolas internacionais, como a inglesa, francesa e alemã, presentes na cidade.
Manuel Pizarro: “A União Europeia terá de decidir a favor da coesão territorial”
Manuel Pizarro, atual número dois do executivo de Rui Moreira e agora candidato socialista à Câmara do Porto, também já tinha realçado a importância desta vitória. Admitiu mesmo que o governo socialista tinha cometido o “erro” inicial de só estar a contemplar Lisboa. “Esta é a prova de que nem todos os governos e partidos são iguais. Este governo tomou uma decisão incompleta, mas foi capaz de a mudar em função de novos e melhores argumentos e isso é um mérito.”
Esta vitória é também “uma prova de que quando se ultrapassam divergências o Porto vence”, diz Pizarro, para quem o Porto foi capaz de esgrimir os argumentos certos: “um bom aeroporto internacional, capacidade de criar emprego para os familiares dos funcionários ou integração escolar”.
“O Porto está inserido numa região cujo rendimento per capita é inferior ao rendimento médio da UE”, reforçou Pizarro, que vê neste fator um argumento decisivo perante outras candidaturas. “A União Europeia terá de decidir a favor da coesão territorial e desenvolvimento regional.”
Agora é esperar. A candidatura portuguesa terá de ser entregue até ao final do mês e só em novembro deverá ser divulgada a cidade escolhida.