Eram sete da manhã, hora local espanhola, quando o mercado teve conhecimento da primeira resolução europeia de um banco, sem custo para o contribuinte. A cobaia é o banco espanhol Popular, que após perder metade do valor em bolsa na última semana, foi considerado em risco de colapso pelo Banco Central Europeu e vendido ao Santander por um euro.
O resgate e venda do Popular representa um teste para o Conselho Único de Resolução, operacional desde o ano passado para lidar com crises bancárias como esta, do Popular, e que teria também sido chamada para a resolução do BES. Ainda é cedo para avaliar esta operação, coordenada ao milímetro entre as várias entidades envolvidas. Os mercados e investidores estão a digerir os anúncios em catadupa.
Por um lado, a não existência de custos para os contribuintes é um ponto a favor desta solução. Mas as perdas totais para os acionistas podem tornar a operação mais complexa. Até ontem, o Banco Popular valia 1300 milhões de euros em bolsa, que entretanto se reduziram a zero para os 300 mil acionistas. Na verdade, de acordo com um especialista independente ouvido pelo El País, o valor do banco está algures entre os dois mil milhões negativos e os oito mil milhões negativos consoante o cenário otimista ou pessimista.
É, por isso, que o Santander anunciou já um aumento de capital de sete mil milhões de euros para “fortalecer o balanço do Popular”, de acordo com um comunicado do próprio Santander, liderado por Ana Patricia Botín. Os mercados castigaram as acções do Santander num primeiro momento, com a queda de 3%, mas já estão a recuperar.
Reestruturação do Popular em Portugal começou em 2016
Na atividade comercial, mais de 90% dos risco de exposição está concentrado em Espanha e apenas 5% em Portugal, segundo o último relatório e contas da instituição. “Para o Banco Popular Portugal, esta medida não implica qualquer alteração na atividade do banco português, que continua a operar com total normalidade, agora integrado num novo grupo bancário”, assegurou esta quarta-feira o Banco de Portugal, em comunicado. O novo grupo é o Santander que engole a operação portuguesa do Popular, ano e meio depois de também ter ficado com parte da atividade bancária do Banif por 150 milhões de euros.
Presente em Portugal desde 2003, com a compra do Banco Nacional de Crédito, o Popular anunciou no ano passado uma reestruturação da operação nacional. Em novembro do ano passado, a filial portuguesa comunicou ao mercado o encerramento de 47 agências e a saída de 295 funcionários – a operação no País encolheu para menos de 120 balcões e o número de empregados ronda hoje os 860 funcionários.
G.M.