É Natal e uma família americana leva para casa o Echo Dot. É um aparelho da Amazon que, com base no reconhecimento de voz, “obedece” às nossas “ordens”. Dá-nos, por exemplo, informação sobre o tempo, lê-nos as notícias, põe a música que queremos e também controla outros aparelhos das casas inteligentes, como as luzes, a temperatura, etc.
No vídeo, que se tornou viral no You Tube, vê-se uma criança de tenra idade a pedir: “Alexa, toca o ‘Digger, Digger’” [uma canção infantil]”. A assistente responde: “Pornografia detetada”. E começa a enumerar uma série de palavras relacionadas com o tema (“pussy anal dildo…”), até que o pai do miúdo lhe grita: “Alexa, pára!”, perante as risadas nervosas da família.
O embaraço da Amazon é uma mina para o negócio dos concorrentes e a Mattel apressou-se a anunciar uma “Alexa” para bebés. Chama-se Aristotle, custa 300 dólares (cerca de 280 euros) e vai ser posta à venda no próximo verão.
No fundo, a Aristotle (sim, é uma “ela) não passa de um intercomunicador com inteligência artificial e diversas funcionalidades controladas pela voz. Pode, por exemplo, ler histórias às crianças, pôr-lhes músicas que ajudem a adormecer, ensinar-lhes palavras noutras línguas…
(As opiniões de pediatras e psicólogos sobre o uso de “amas virtuais” versus a necessidade que os bebés têm de contacto humano ficam para abordar noutro artigo).
O facto é que estamos a assistir ao início da era da Internet das Coisas, que vai levar a nossa vida para um outro nível. Estes assistentes virtuais como a Alexa, o Google Home ou o Siri (da Apple) são a porta de entrada.
A Alexa, por exemplo, vai começar a ser instalada em alguns aparelhos de televisão, pelo que lhe podemos ordenar que mude de canal, que nos compre determinado filme ou que procure certo programa. Isto mesmo foi anunciado pela Amazon no arranque da CES, uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, que decorre em Las Vegas entre 5 e 8 de janeiro.
Outro anúncio feito pela Amazon foi o da associação com a marca de eletrodomésticos Whirlpool. Assim, os aparelhos da cozinha vão ganhar outras funcionalidades, que serão disponibilizadas ainda este ano. “Alexa, regula o forno para os 240 graus…”
Para onde vai esta ordem? Sim, o que dizemos a Alexa é gravado, embora a Amazon garanta que apaga as gravações 60 segundos depois. Mas a Internet das Coisas provoca ainda muitas discussões sobre segurança, sendo que estes aparelhos são sempre potenciais alvos dos hackers.
E ainda no mês passado a DECO – Associação para a Defesa do Consumidor lançou um alerta sobre dois brinquedos eletrónicos ligados à internet (My Friend Cayla e i-Que), que podiam colocar as crianças em risco, uma vez que era possível que um qualquer estranho viesse a comunicar com elas através dos microfones instalados nesses brinquedos.
Na segurança, na privacidade, na regulamentação de certos avanços tecnológicos (como os carros sem condutor, por exemplo), há um longo caminho a percorrer. À medida que as nossas vidas se enchem de sensores e comandos de voz. Para o bem e para o mal.