Passaram oito anos sobre a crise que em 2008 arrastou o sistema financeiro internacional para o abismo mas, apesar das constantes mensagens de tranquilidade dos principais dirigentes mundiais, a banca europeia ainda não está sólida. Debaixo do fogo cerrado dos mercados está agora o maior banco alemão, o Deutsche Bank, cuja cotação em bolsa tocou, no início da semana, o nível mais baixo das últimas três décadas. (A VISÃO conta-lhe hoje que o DB vai fechar balcões em Portugal)
Foi por entre avisos de que não iria pedir ajuda ao governo alemão nem novos aumentos de capital aos acionistas que a administração do Deutsche Bank assistiu, sem poder fazer nada, a uma quebra de mais de 7% nas suas ações só na passada segunda-feira, dia em que a cotação desceu para valores que não eram registados desde 1983. Durante a manhã de hoje, terça-feira, registaram já uma nova descida próxima de 3%.
Este último ano foi, aliás, catastrófico para o banco alemão, que perdeu em bolsa mais de 55% do seu valor. A multa de €12,4 mil milhões, aplicada no passado dia 16, pelo Departamento norte-americano de Justiça, adensou ainda mais as desconfianças dos investidores, que duvidam que a instituição tenha balanço para suportar uma sanção cujo valor se aproxima perigosamente do seu valor de mercado, que é de apenas €16 mil milhões.
Nas horas seguintes ao anúncio do Departamento de Justiça, as ações caíram 8% na bolsa de Frankfurt, e nem sequer foi a primeira vez que o Deutsche Bank foi sancionado por atuação ilícita na comercialização dos créditos hipotecários que, em 2007, causaram a crise do subprime. Em 2013, já tinha pago €1,7 mil milhões pelo mesmo “crime”.
Castigado por fortes prejuízos – de €6,8 mil milhões, em grande parte devido aos custos de litigância de €5,2 mil milhões -, o banco recusa-se agora a pagar a multa aplicada nos Estados Unidos, na expectativa de conseguir negociar um valor mais baixo com as autoridades norte-americanas, como outros bancos têm feito com sucesso.
Enquanto decorrem as conversações no outro lado da Atlântico, a Focus noticiou a existência de contactos entre Angela Merkel, e o presidente executivo do Deutsche Bank, John Cryan, que se terão revelado infrutíferos. Segundo a revista, a chanceler alemã terá recusado prestar auxílio ao banco antes das eleições legislativas marcadas para o próximo ano. O banco apressou-se a desmentir a notícia, garantindo que tal “assunto não está atualmente nos nossos planos”.
Face a estes acontecimentos, os investidores temem a resolução do banco nos termos impostos pelas novas regras de resgate a nível europeu que penalizam, em primeiro lugar, acionistas (entre eles o próprio Estado alemão) e obrigacionistas, tal como sucedeu em Portugal com o Novo Banco e com o Banif. Sem capacidade aparente de levantar fundos no mercado, a administração de John Cryan estará a estudar a hipótese de avançar para uma consolidação com outro banco, tendo sido noticiadas conversações com o Commerzbank – também ele em dificuldades e prestes a despedir 9 mil trabalhadores.
Contudo, analistas e banqueiros dividem-se sobre o futuro do banco alemão. Alguns deles, citados nos últimos dias pelo Financial Times, acreditam numa intervenção do Governo alemão porque o Deutsche Bank é demasiado grande para falir, O seu colapso causaria ondas de choque em toda a banca europeia – um cenário, segundo dizem, para o qual ninguém estará preparado.Nem os alemães.