“Temos um mandato para manter a estabilidade dos preços em toda a zona euro, não apenas na Alemanha. Obedecemos às leis, não aos políticos. Somos independentes”, anunciou aos jornalista Mario Draghi, à saída de mais uma reunião do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE). A mensagem seguiu direitinha para Berlim, e fez eco junto do governo de Angela Merkel. Ontem, o banco central optou por manter as taxas de juro inalteradas (em 0%, 0,25% e -0,4%, respectivamente, taxas para as operações principais de refinanciamento, cedência de liquidez e depósito), o que tem provocado o descontentamento na Alemanha.
O responsável do BCE defende a independência do Banco Central Europeu da interferência política, apontando o dedo aos governos dos membros da zona euro para apoiarem a economia da região através de políticas fiscais e reformas mais ambiciosas. A reação surge na sequência das críticas proferidas por Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão, que em entrevista à Reuters acusou o BCE e a sua política monetária expansionista (que tem mantido as taxas em níveis historicamente baixos) de serem responsáveis por provocarem problemas extraordinários à Alemanha e que, em parte, levaram ao aumento do poder dos movimentos políticos anti-imigração naquele país.
“É inquestionável que a política de taxas de juro baixas está a causar enormes problemas aos bancos e ao sector financeiro alemão. (…) E isso também se aplica às pensões de reforma”, acusou o ministro alemão.
No entanto, Draghi mantém-se firme nas suas opções e recorda que a zona euro continua a enfrentar um cocktail de riscos externos que podem agravar as economias a qualquer momento, pelo que as baixas taxas de juro servem de combustível para o crescimento económico.
Nesta quezília cada vez mais evidente, o Fundo Monetário Internacional tem uma preferência clara. Christine Lagarde deixou claro esta semana (quarta-feira) que, para a instituição que lidera, a razão está do lado do presidente do banco central. O Fundo Monetário Internacional, nas suas Previsões de Primavera, defendeu que a política monetária deve continuar a ser expansionista e que os países com orçamentos folgados – como a Alemanha – podem e devem impulsionar o crescimento económico com mais investimento público, mesmo que isso signifique metas menos ambiciosas para os rácios orçamentais.