Abrir uma conta bancária, pedir um crédito pessoal, constituir um depósito pelo número de dias pretendido à taxa de juro de 0,5% – a partir desata sexta-feira, pode fazer tudo isto numa das 52 lojas dos Correios que acolhem o novo Banco CTT. E sem ter de pagar custos de manutenção ou comissões bancárias.
“Só vamos ter produtos simples”, garante à VISÃO Luís Pereira Coutinho, presidente do Banco CTT. “A oferta é reduzida, mas fácil de entender. É estruturada em cima de uma plataforma que já existe, aproveitando sinergias com o serviço postal e beneficiando da ligação entre os funcionários dos CTT e os clientes”, adianta.
Detido a 100% pelos CTT, o novo banco funciona nas lojas dos Correios, lado a lado com o negócio postal tradicional, das 9h às 18h dos dias úteis. Os espaços físicos são os mesmos e os funcionários também, embora alguns – dois ou três em cada loja – tenham recebido formação na área bancária. Até final do ano, o banco estará presente em 200 das 625 lojas dos CTT – cerca de um terço da rede nacional da empresa. Em 2017, está prevista a abertura em mais 200 lojas e, em 2018, nas restantes.
Gerir a conta à distância
O Banco dos CTT oferece contas à ordem que podem evoluir para contas com domiciliação do ordenado ou da pensão de reforma (vulgo contas ordenado ou contas reforma), associadas a um cartão de débito na rede Multibanco sem anuidade. Para consultas ou movimentos da conta à distância, os clientes dispõem de um serviço de home banking, gratuito, ou de uma app para smartphone, também sem custos. Os clientes com telemóveis mais simples podem aceder à conta bancária através de um sistema do tipo SMS, disponível nas três redes móveis.
Novas soluções de poupança deverão surgir dentro de algum tempo mas, para já, a aposta é nos depósitos a prazo constituídos por períodos de tempo à escolha do cliente, até ao máximo de um ano, remunerados à taxa fixa de 0,5%. “São soluções muito simples, para aforradores conservadores”, diz Pereira Coutinho. O banco vai ainda disponibilizar cartão de crédito e conceder crédito pessoal através de uma parceria com o Banco BNP Paribas. Nos seguros, a Fidelidade e a Mapfre são os parceiros iniciais. A partir do segundo semestre, está prevista a entrada no segmento do crédito habitacional.
Investimento de 170 milhões
O projeto de lançamento de um banco postal nasceu há dezenas de anos nos CTT, mas só ganhou fôlego depois da privatização da casa-mãe, concluída em setembro de 2014. “Entendeu-se que uma licença bancária tornaria a venda mais atraente”, revelou Luís Pereira Coutinho. Constituído em agosto do ano passado, o registo do novo banco junto do Banco de Portugal foi feito em novembro e, logo a seguir, começou a fase de soft opening.
Com um investimento estimado em 170 milhões de euros, o retorno está previsto para dentro de três anos. “O grande investimento é na formação. Além dos funcionários das lojas, temos uma equipa muito jovem de cerca de 100 pessoas, com experiência bancária nacional e internacional”, diz o presidente. Até agora, cerca de 500 funcionários dos CTT frequentaram cursos na área bancária, num total de 40 mil horas de formação, encontrando-se mais 740 a fazer o mesmo.
Para já, os objetivos estratégicos são modestos. Nos próximos dez anos, o Banco CTT quer alcançar 10% de quota no mercado dos particulares, ou seja, um milhão de clientes. Alargar o serviço às pequenas empresas é uma hipótese a explorar dentro de algum tempo.
A força da marca
O banco pode ser novo mas a marca CTT carrega uma história com quase 500 anos, que se celebram em 2020. “É uma marca muito forte, que transmite confiança e tem muitos anos de experiência nos serviços financeiros”. A entrada dos Correios no mundo da finança deu-se há mais de um século, com a criação dos vales postais. Seguiu-se a venda dos certificados de aforro e do Tesouro – cuja oferta se manterá nos CTT, ao abrigo do contrato com o Estado português – e, mais recentemente, outros produtos financeiros como seguros de capitalização. Por isso, a designação escolhida para o novo banco acabou por ser o nome da marca: “Parece-nos que Banco CTT tem mais força do que Banco Postal”, diz Pereira Coutinho.
Antes do arranque, foram analisados os diferentes modelos de banco postal em países como França, Itália, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, Espanha, Polónia, entre outros. Em Portugal, os estudos de mercado revelaram que uma parte dos 3,7 milhões de clientes que visitam anualmente as lojas dos CTT admitiam mudar-se para um banco com uma oferta “simples” e um cabaz “reduzido” de produtos, que sejam “fáceis” de entender. Foi essa a opção seguida pela equipa de Luís Pereira Coutinho, o gestor que trocou uma carreira no BCP pela liderança do Banco CTT. Neste caso, a inovação virá da simplicidade.