Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças, acaba de ser contratada para um alto cargo na Arrow Global, uma empresa sediada em Londres que é especialista na gestão de dívida e recuperação de créditos e que, em 2014, comprou créditos ao Banif, então maioritariamente detido pelo Estado.
A atual deputada do PSD foi nomeada para o cargo de diretora não executiva e membro do departamento de auditoria e risco, segundo anunciou hoje a própria empresa, devendo iniciar funções já na próxima segunda-feira. Maria Luís Albuquerque fez parte da sua carreira no IGCP, o instituto público que gere dívida pública, mas também exerceu tutela direta sobre o Banif durante o período em que o banco foi controlado pelo Estado. Em dezembro, o Banif acabou por ser alvo de resolução por parte do Banco de Portugal, gerando uma fatura para os contribuintes portugueses que poderá rondar os três mil milhões de euros.
Em curso, está já uma comissão parlamentar de inquérito para esclarecer os contornos da resolução do Banif, que pretende ouvir, entre várias personalidades, Maria Luís Albuquerque, responsável política pelo banco desde a ajuda estatal decidida no final de 2012 e a sua saída do governo, em novembro passado. A ex-ministra esteve envolvida na negociação, sem sucesso, de oito versões de um plano de reestruturação do Banif com a Comissão Europeia, cuja não aprovação acabou por desencadear a resolução.
No relatório e contas de 2014 do Banif, pode ler-se que em 30 de junho e 30 de setembro de 2014 “foram assinados os contratos de compra e venda de créditos compostos pelas carteiras de Portugal e Espanha à Arrow Global Limited e à Arrow Global Luna Limited, respetivamente”, empresas do grupo para o qual a deputada do PSD vai trabalhar.
As deputadas do Bloco de Esquerda Catarina Martins e Mariana Mortágua já reagiram a este anúncio através das redes sociais: “Maria Luís Albuquerque acaba de ser contratada como diretora pelo grupo Arrow Global, que compra e gere carteiras de dívida de países europeus. Um grupo que teve lucros recorde em 2015, graças a negócios em Portugal e na Holanda. Comprou duas empresas do setor em Portugal, a Whitestar e a Gesphone, que sabemos estarem envolvidas na compra de ativos do Banif”. E concluem remetendo o assunto à comissão de inquérito parlamentar ao Banif, da qual Mariana Mortágua faz parte.