Mario Draghi disse as palavras mágicas e os mercados animaram-se de imediato. É assim desde que em julho de 2012 o poderoso presidente do Banco Central Europeu (BCE) prometeu fazer “tudo o que for necessário” para resolver a crise da zona euro. A crise não acabou, mas a situação financeira dos países periféricos melhorou bastante e os juros das suas dívidas públicas deram sinais de alívio quase de imediato. A zona euro ganhou novo fôlego e entrou numa nova fase.
Em novembro de 2015, Mario Draghi voltou à carga e “ameaçou” usar todos os instrumentos ao alcance do BCE para fazer crescer os preços na zona euro e afastar o espetro da deflação. O programa de compra de títulos de dívida pública e privada (quantative easing) lançado no final de 2014, orçado em 1,1 biliões de euros, não tem conseguido estimular uma inflação que teima em não crescer, o que levou o conselho de governadores do BCE a admitir estender o programa no tempo até atingir o seu objetivo em termos de preços – que é de 2% ao ano.
Com a chegada do novo ano, as bolsas mundiais deram sinais de muita instabilidade, assustadas com a bolha da economia chinesa, e o preço do petróleo entrou em queda livre para valores abaixo dos 30 dólares, alcançando mínimos dos últimos 12 anos. Este quadro em nada ajudou a missão do BCE.
Perante este cenário, o presidente mario Draghi afirmou em conferência de imprensa, na quinta-feira, 21: “Não há limites para a nossa vontade em utilizar os instrumentos” de política monetária existentes no mandato do BCE para alcançar o objetivo de estabilidade dos preços. E acrescentou:: o BCE “não capitula”, “tem o poder, a vontade e a determinação de agir” para cumprir o seu mandato, impulsionando assim a inflação muito baixa (0,2%) que não dá sinais de ânimo. Prometeu, uma vez mais, estudar a utilização de novos instrumentos de estímulos para aplicar já a partir de março.
Como esperado, a reação dos mercados foi imediata. Logo na quinta-feira, as principais bolsas europeias e asiáticas (China incluída) recuperaram das perdas e o euro deslizou 0,9% em relação ao valor do dólar. Hoje, sexta-feira, 22, o preço do petróleo Brent abriu a subir cerca de 6%, regressando a valores acima dos 30 dólares por barril. As bolsas também abriram em forte alta, com o PSI-20 a liderar os ganhos na Europa valorizando-se em mais de 3,5 por cento a meio da manhã. No início da semana, o índice nacional tinha atingido o seu valor mais baixo desde julho de 2012 – precisamente o momento em que Mario Draghi prometeu, pela primeira vez, fazer “tudo” para salvar a zona euro dos humores dos mercados.