Em entrevista à agência Lusa, a presidente do Conselho de Finanças Públicas não tem dúvidas de que “ficamos mais seguros se tivermos um programa cautelar” e defende que o facto de estes programas não estarem ainda completamente definidos não deve ser visto como um fator negativo.
“Podemos jogar exatamente com isso porque como não se sabe muito bem o que é, será muito aquilo que for negociado”, aponta a economista.
Teodora Cardoso justifica a opção por um programa cautelar pelo facto de ainda existir na economia internacional “um nível de incerteza muito grande” que pesa sobre Portugal. E exemplifica essa incerteza com o que aconteceu às exportações em 2013 que apesar de terem tido um comportamento positivo apresentaram uma taxa de crescimento modesta em virtude da conjuntura externa.
“Sozinhos não determinamos muitas coisas”, lembra, adiantando que há uma grande incerteza em relação, por exemplo, aos mercados financeiros.
Por outro lado, o programa cautelar “tem a vantagem de nos obrigar a pensar um bocadinho”, diz Teodora Cardoso, esclarecendo que se refere “principalmente aos principais partidos” políticos.
Com o programa cautelar teria de se pensar no “ajustamento que o país precisa de fazer para o futuro e não ficarmos sujeitos” aos orçamentos, que apenas olham para o próprio ano e se é ano de eleições ou não.
“Esse tipo de coisas não são aquilo que precisamos de ter como prioridade”, sublinha.
Negociado e não imposto
Teodora Cardoso lembra, por outro lado, que também precisamos que o eventual programa cautelar não nos seja imposto, mas seja negociado.
“Precisávamos de não ficar completamente nas mãos de um programa que nos é imposto, e temos condições para isso”.
E isso será possível?
“Tive muita experiência de negociações, não com a `troika`, mas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e o nosso papel nessa negociação é extremamente importante”, lembra a economista, adiantando que se “tivermos propostas razoáveis que conduzam ao objetivo pretendido e que sejam inclusivamente mais eficientes que as deles, eles aceitam-nas”.
Por fim, a economista lembra que a saída da `troika` não é um fim em si mesmo.
“Não se devia fazer tanta ênfase nisso, devíamo-nos preocupar mais em perceber o que temos a fazer para, não só sair, como continuar de fora e continuar a pôr o país numa rota de crescimento e de emprego que é, de facto, aquilo que falta”, conclui.
A atual descida das taxas de juro da dívida pública no mercado secundário, ou os níveis altos do passado não nos devem nem deixar eufóricos ou depressivos, alerta Teodora Cardoso.
“Os mercados são assim. A primeira coisa que temos de aprender e já devíamos ter aprendido é que não nos podemos fiar nos altos e baixos dos mercados financeiros. Eles são assim. Passam a vida a fazer `overshooting` e `undershooting` e ganham com isso. Nós é que perdemos”, lembra a presidente do Conselho de Finanças Públicas.
Mas Teodora Cardoso também lembra que “nós próprios ou estamos eufóricos ou estamos deprimidos em vez de estarmos no meio-termo que é aquilo que era preciso”.
Para a economista “todos os problemas têm solução, os países não desaparecem como as empresas, não é só não ir à falência, isso às vezes vão e depois veem-se aflitos, mas não desaparecem”.
Agora, prossegue, “também não vamos ficar eufóricos só porque a taxa de juro desceu ou porque o défice orçamental foi um bocadinho mais baixo do que pensávamos que fosse, os problemas continuam lá e o melhor é olhar sempre para eles e pensar no que ainda temos de fazer para melhor em vez de estarmos a pensar no que já melhorámos”.