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Poucos saberão o que passou pela cabeça de Maria Luís Albuquerque naquela interminável meia hora entre o anúncio da demissão de Portas e a sua tomada de posse em Belém, na terça-feira, 2. Mas a nova ministra nunca foi mulher para se deixar assolar pelas dúvidas, nem para ceder um centímetro que seja na condução das políticas de austeridade impostas pela troika – a não ser que Pedro Passos Coelho ou o partido assim o entendam. É nesse ponto que se distingue do seu antecessor no cargo, Vítor Gaspar, o rosto do programa de ajustamento económico que, nos últimos dois anos, governou como se não houvesse ciclos eleitorais. Por escolha pessoal do primeiro-ministro, Maria Luís será a anfitriã dos representantes da troika que, dentro de pouco mais de uma semana, aterram em Lisboa para iniciar o 8.º exame regular. Com ou sem Executivo em funções. Quem é, afinal, a ministra que sucedeu a Gaspar após o anúncio da sua nomeação ter despedaçado o Governo?
Como se verá de seguida, o perfil não encaixa nos estereótipos convencionais. Natural de Braga, formada em Economia, casada com um ex-jornalista da área económica, com quem tem 3 filhos, é, depois de Manuela Ferreira Leite, a segunda mulher a ocupar a pasta das Finanças. Aos 45 anos, criou fama de austera, competente, inteligente, trabalhadora, ambiciosa e calculista. Move-se com precisão e eficácia na arena política, construindo à sua volta uma teia de nomeações político-partidárias capaz de suportar a sua missão no Terreiro do Paço. independentemente da sua duração…
Uma estrela na política
Maria Luís e Vítor Gaspar não se conheciam, mas entenderam-se bem durante os dois anos que coabitaram no Ministério das Finanças. Formaram uma equipa coesa, apesar do falhanço nas metas orçamentais. Antes de integrar o Governo, como secretária de Estado do Tesouro e Finanças, estreou-se na política, como cabeça de lista do círculo eleitoral de Setúbal, pela mão de Pedro Passos Coelho, seu antigo aluno na Universidade Lusíada. “O aparecimento dela foi uma surpresa”, conta Vieira da Silva, deputado e ex-ministro socialista que saiu vencedor dessas eleições. Na escolha, terá pesado a amizade que a unia a Passos Coelho e os conselhos que lhe dava. Como coordenadora do Núcleo de Emissões e Mercados do Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP), entre 2007 e 2011, era ela quem desenhava e executava as emissões de dívida pública, numa altura em que Portugal estava em risco de perder o acesso aos mercados. Vieira da Silva recorda-se de que a agora ministra “não causou impacto, mas também não foi um desastre”. “Fez uma campanha discreta, notava-se que não tinha experiência, mas fez bem o seu papel. Era segura e sabia enfrentar uma plateia”, conta. Maria Luís era uma estrela em ascensão na política e, por isso, Vieira da Silva não ficou surpreendido quando ela foi para o Governo. Antes, colaborou na equipa de António Nogueira Leite que, no início de 2010, redigiu o programa eleitoral da candidatura de Pedro Passos Coelho à liderança do PSD, e, de seguida, participou no programa eleitoral elaborado por uma equipa coordenada por Carlos Moedas, seu colega nas negociações com a troika.
Já no Ministério das Finanças, privatizou a EDP, a REN, a ANA mas falhou a venda da TAP, depois de uma negociação sensível com o empresário Germán Efromovich. Vendeu o BPN ao banco BIC, de capitais angolanos, num processo demorado e nem sempre transparente, que levou à formação de uma comissão de inquérito parlamentar. Entre as idas ao Parlamento e uma crescente exposição pública, decorrente da complexidade dos assuntos, foi ganhando traquejo político e um certo à vontade nos bastidores do partido, de que é militante recente. E também a admiração de Mira Amaral, o histórico do PSD que preside ao banco BIC, que não se cansa de lhe elogiar o profissionalismo, a capacidade de comunicação e o domínio técnico dos dossiês.
Durante estes dois anos, tornou-se presença habitual em Bruxelas, participando com Vítor Gaspar nos encontros de ministros das Finanças da União Europeia e também com Passos Coelho nos conselhos europeus onde se discutiam matérias económicas. Em Lisboa, nunca gostou do frente a frente com os media, trocando de bom grado as conferências de imprensa pelos menos agressivos encontros informais com um grupo de jornalistas previamente selecionado pelo gabinete de imprensa do Ministério.
Nomeações polémicas
Não sendo uma desconhecida no extenso e labiríntico edifício amarelo do Terreiro do Paço – entre 1996 e 1999 foi técnica superior da Direção Geral do Tesouro e Finanças, e em 2001 desempenhou funções de assessora do secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, Manuel Baganha, durante o Governo socialista de Guterres -, o seu regresso nem sempre correu de feição. Uma pequena copa, equipada com armários, bancada com lava-loiças e micro-ondas com que brindou os funcionários do seu gabinete, tornou-se notícia no Correio da Manhã. Manteve-se no centro das atenções mediáticas quando convidou para sua chefe de gabinete Maria Luísa Pinto Baganha, casada com Manuel Baganha, que, depois da passagem pelo Governo, foi nomeado presidente do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social. A experiência viria a revelar-se um erro de casting e a adjunta acabou substituída.
Há um ano, política e governação voltaram a misturar-se. Envolvida num alegado desvio de dinheiros que serviriam para pagar a renda do PSD de Almada, Ana Dias Moura, ex-dirigente do PSD de Almada e secretária pessoal de Maria Luís, demitiu-se dessas funções. Mas continuou a trabalhar no apoio técnico-administrativo à secretária de Estado, contando com o apoio pessoal de Maria Luís.
Nos meses seguintes, a governante continuou a privilegiar pessoas com quem se cruzara no seu percurso profissional. À Refer, onde foi diretora de gestão financeira entre 2001 e 2007, foi contratar António Costa Vaz, “para realizar estudos no âmbito da sua especialidade”. Em agosto de 2012, promoveu o antigo diretor financeiro, Alberto Diogo, com quem colaborou, a administrador da empresa pública. Recentemente, propôs Alfredo Vicente Pereira, um ex-vice-presidente da Refer, para a administração da Parque Escolar, mas este recebeu parecer negativo da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CRESAP).
Trabalho de formiguinha
Em outubro de 2012, a estrela de Maria Luís ficou um pouco mais pálida quando perdeu a pasta das Finanças, passando-a a Manuel Rodrigues, um dos mais jovens governantes de sempre. Contrariamente ao que chegou a ser avançado, não deixou escapar o pelouro das privatizações, que manteve apesar de duas das alienações – da EDP e da REN – estarem a ser investigadas pelo Ministério Público. No final desse ano, avançou com a venda da TAP, mas o processo borregou à última da hora, por falta de garantias bancárias do candidato Germán Efromovich. Dias depois, a venda da ANA, por um valor superior a 3 mil milhões de euros, coroou de glória o esforço de alienação de empresas públicas que, em pouco mais de um ano, permitiu ao Estado encaixar 6,4 mil milhões de euros.
O tão desejado regresso de Portugal aos mercados, que viria a concretizar-se ainda em 2012, foi outra vitória a juntar ao seu palmarés. Maria Luís Albuquerque não escondeu a satisfação com o sucesso da primeira emissão de dívida pública de longo prazo, que registou uma procura muito superior à oferta. Depois de semanas passadas em roadshow no estrangeiro, confessou ter aberto uma pequena garrafa de champanhe com a equipa do IGCP, liderada por João Moreira Rato. “Os Investidores internacionais adoram-na. Fala a linguagem dos mercados, num inglês fluente. Uma admiração que é partilhada por Bruxelas”, disse à VISÃO um economista conhecedor dos mercados.
O seu trabalho de formiguinha é, por isso, reconhecido dentro e fora do Governo. Mas a aura dourada perdeu definitivamente o brilho em março, com a gestão do polémico caso dos contratos de derivados (swaps). Como diretora de gestão financeira da Refer, assinou dois contratos de alto risco, considerados problemáticos pelo IGCP. Vítor Gaspar e Passos Coelho saíram em sua defesa, defendendo que os contratos eram “complexos mas não tóxicos”, e a própria Maria Luís Albuquerque foi à comissão de inquérito parlamentar garantir que a carteira da Refer tinha sido eliminada com lucro. Mas a decisão de tomar a seu cargo as negociações com os bancos, para o fecho antecipado dos contratos tóxicos de diversas empresas públicas, não foi compreendida pelos partidos da oposição, que exigiram a sua demissão do cargo. A deputada Ana Drago, do Bloco de Esquerda, chamou-lhe “Senhora Swap”. “Também já me chamaram senhora BPN”, respondeu-lhe a secretária de Estado, aparentando uma grande calma.
Pragmática, a governante sempre deu provas de manter a serenidade no meio da tormenta, mesmo em assuntos difíceis como a nomeação da nova administração da CGD, onde tem tido alguma dificuldade em acertar nos nomes, depois de ter sido apontada como a causadora da demissão, com estrondo, do economista António Nogueira Leite.
No mesmo dia em que inaugurou os briefings do Governo, para garantir que Vítor Gaspar não lhe tinha passado a informação do anterior Governo sobre os contratos de swap, Maria Luís Albuquerque foi a escolha do primeiro-ministro para ocupar o cargo de ministra das Finanças. Aceitou, e com essa decisão, provocou a demissão de Paulo Portas e um abanão na coligação que incendiou o Governo de Passos Coelho.
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