Professor de Ciência Política na Pacific University, Jules Boykoff chegou a pertencer, na juventude, à equipa olímpica de futebol dos EUA. Nos últimos anos, tem-se dedicado, no entanto, a analisar o fenómeno olímpico pelo lado da política e das relações económicas. É autor de quatro livros sobre os Jogos Olímpicos, entre os quais Power Games: A Political History of the Olympics (Verso 2016), e escreve, com regularidade, para as colunas de opinião do New York Times, Los Angeles Times, The Nation, Folha de São Paulo e Asahi Shimbun. Ao convite da VISÃO para responder a algumas perguntas, agradeceu com um correto “muito obrigado”, a provar que ainda não se esqueceu das palavras em português que repetia nos anos em que viveu no Brasil.
O que considera que foi mais importante na decisão de realizar os Jogos de Tóquio 2020 durante uma pandemia: o respeito pelos atletas ou os deveres e as obrigações para com os patrocinadores e os negócios que giram à volta dos Olímpicos?
Na história política recente dos Jogos Olímpicos parece nunca ter sido tão óbvio que é o dinheiro que faz mover o espetáculo dos cinco anéis. O facto de o Comité Olímpico Internacional (COI) estar perfeitamente satisfeito por realizar um evento feito apenas para as televisões já diz tudo. Porque o COI obtém 73% das suas receitas das estações televisivas e outros 18% dos seus patrocinadores mundiais – entidades gigantescas como a Coca-Cola, a Dow e a Panasonic. Por isso, pode sobreviver economicamente a estes Jogos pandémicos, mesmo que não haja adeptos nas bancadas. A realidade é que são os organizadores dos Jogos de Tóquio os mais prejudicados com a ausência de espectadores – de início, eles esperavam arrecadar cerca de 800 milhões de dólares [mais de 677 milhões de euros] com a venda de bilhetes. Se o COI respeitasse mesmo a saúde e a segurança dos atletas, teria adiado os Jogos ainda mais. Afinal de contas, responsáveis médicos dentro e fora do Japão clamam pelo cancelamento dos Olímpicos devido à Covid-19. Além disso, especialistas em saúde pública [entre eles Annie Sparrow, antiga conselheira de Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS] publicaram um artigo na revista científica The New England Journal of Medicine, no qual criticam o COI por não seguir as melhores práticas científicas no que diz respeito à preparação da segurança dos atletas.