O Portugal – Suíça de ontem vai ficar para a história do futebol português. Em primeiro lugar, é claro, pela goleada por 6-1 que permitiu à Seleção Nacional avançar para os quartos-de-final do Mundial do Qatar, mas também por marcar, muito provavelmente, o fim da era de Cristiano Ronaldo enquanto figura omnipresente. Algum dia isso teria de acontecer. E já que era para assim ser, ainda bem que foi com uma goleada e, mais importante ainda, com uma excelente exibição coletiva, que deixou sinais claros de que a Seleção Nacional está bem entregue, nas mãos (melhor dizendo, neste caso, no pés e nas cabeças) de gente capaz de honrar e dar seguimento ao legado daquele que continuará a ser um dos melhores futebolistas que alguma vez passou nos campos de futebol em todo o mundo.
É evidente que este não é um momento de regozijo, mesmo para quem, como eu, achava e tem vindo a defender que estava na altura de acabar com a ideia de que a equipa de Portugal devia continuar a viver em função de Ronaldo. Apetecia-me mesmo, tal como escrevia ontem a minha colega e diretora da VISÃO, Mafalda Anjos, dar-lhe um abraço. Pelo que está a viver e, sobretudo, para lhe agradecer os incontáveis momentos de alegria e orgulho que proporcionou, a mim e a todos os portugueses. Compreendo e respeito que seja extraordinariamente doloroso para alguém que atingiu a dimensão planetária de CR7 ver-se confrontado com o princípio do fim desse estatuto. Acredito que seja difícil encontrar o tempo e a forma certas de trocar o chip e mudar de vida. Mas sei, como Ronaldo tem, por mais que lhe custe, a obrigação de saber, que o pior que se pode fazer nestas circunstâncias é prolongar a agonia. Este Campeonato do Mundo é altura ideal para começar a dizer adeus à Seleção Nacional. Sem que isso tenha de ser um drama, nem motivo de zangas. Antes sim a oportunidade de, enquanto capitão e líder, ser apenas mais um a ajudar, em tudo aquilo e na forma que lhe seja pedido, a levar a Seleção Nacional o mais longe possível. E assim, quem sabe, sair em glória.
É evidente que não foi por Ronaldo ter ficado no banco que Portugal venceu categoricamente a Suíça. Nem nunca saberemos o que teria acontecido se Fernando Santos não tivesse tomado aquela opção. Mas ficou, uma vez mais, claro que é possível jogar bem e ganhar sem CR7. De certa forma, voltou a parecer, como já acontecera em outras ocasiões, que sem o astro planetário em campo, toda a equipa se apresenta mais disponível, mais empenhada e mais coesa, ao mesmo tempo que se abre espaço para que se soltem os talentos de gente como Bruno Fernandes, João Félix, Bernardo Silva e, claro, Gonçalo Ramos, o grande herói do jogo de ontem. Foram estes, como em próximos encontros poderão ser Rafael Leão, Ricardo Horta, Vitinha, André Silva ou qualquer outro. Isto porque, que não restem dúvidas, quando uma equipa, neste caso a Seleção Nacional, deixa de ser a equipa de um homem só, qualquer um pode brilhar e, no fim, brilham todos. Éder e a final do Euro2016 são disto a maior prova!
O primeiro dia da vida de Cristiano Ronaldo pode ter sido também o primeiro dia do resto da Seleção Nacional, pelo menos no que diz respeito ao que resta jogar neste Campeonato do Mundo. A exibição categórica frente a Suíça mostrou que aquela equipa que tantos diziam que só sabia jogar para o empate também sabe praticar um futebol espetacular. Permite mesmo acalentar o sonho de que, desta vez, é possível fazer melhor do que no Mundial de 1966, em Inglaterra, e no Alemanha2006, alturas em que a Seleção Nacional se ficou pelas meias-finais. Mas de nada adiantará acreditar que já temos equipa para nos batermos de igual para igual com a França, a Inglaterra, a Argentina ou o Brasil, se não formos capazes de, no próximo sábado, sermos melhores do que Marrocos. Como bem podem atestar nuestros hermanos, isto de acreditar que num Campeonato do Mundo há equipas mais fáceis do que outras é meio caminho andado para a asneira.