O tema está quente e o mundo ainda não conseguiu fechar a boca de espanto. Ninguém podia imaginar que cinco anos depois de uma prestação brilhante, nos Jogos Olímpicos do Rio, a atleta americana Simone Biles, de 24 anos, fosse desistir nas finais por equipas e nem sequer iria pisar o tapete das finais individuais de ginástica artística, em Tóquio 2020. Os olhos estavam de facto postos nela, esperando que, pelo menos, igualasse o feito de ter levado para casa quatro medalhas de ouro e uma de bronze nas últimas olimpíadas.
Com este episódio triste, a saúde mental dos atletas olímpicos ganha nova visibilidade. E transporta-nos para outro acontecimento nacional, nos jogos de Los Angeles, em 1984. Se por um lado foi o ano do ouro de Carlos Lopes, por outro fica nos anais da História a desistência de Fernando Mamede, fundista alentejano do Sporting, de quem se esperava que trouxesse, no mínimo, uma medalha de bronze.
Não se tratava de alimentar falsas esperanças. Mamede era o recordista mundial dos 10 mil metros (título que manteve entre 1984 e 1989), ao ter percorrido essa distância em 27.13,81 segundos, transformando-se no único atleta do mundo a fazê-lo em menos de 27 minutos e 30 segundos e por quatro vezes.
No entanto, já se falava da “fraqueza psicológica” do atleta português, que costumava fracassar quando a pressão era muita. O atleta sofria, soube-se depois de ter desistido da prova, de doença do medo do sucesso ou “nikefobia”. Nesse dia, o País madrugara, devido à diferença horária, para festejar o desejado feito ao momento. A desilusão, quando Mamede saiu da pista por não conseguir continuar a correr, foi generalizada e a incompreensão nos dias que se seguiram, enorme.
Quanto ao próprio, manifestou apenas desalento, mostrando uma mente desassossegada: “Era a prova mais fácil para eu ganhar uma medalha… Não sei o que sinto, não sei o que se passa. Sei tudo, sei que sou o recordista do mundo, que sou mais rápido do que eles. Mas, depois, fica tudo tão confuso. A minha cabeça não aguenta toda aquela confusão… Que grande burrada eu fui fazer… Como é que isto foi
possível?”
Depois disto, não voltou a competir nuns Jogos Olímpicos.
Depois disto, que futuro para Simone Biles?