A história e a estatística não ganham jogos, é verdade. Mas mostram tendências e criam currículo. No que a finais da Taça de Portugal diz respeito, o Benfica apresenta um historial bem superior ao do FC Porto. A começar pelas conquistas, com os lisboetas a somarem 26 vitórias, mais dez do que o eterno rival da Invicta. Nos confrontos diretos, então, a superioridade das águias é avassaladora. Em nove finais, só perdeu uma, na longínqua temporada de 1956/57. Há 63 anos, portanto.
O jogo do próximo sábado (20h45, no Estádio Cidade de Coimbra, com transmissão na RTP1) é encarado de forma bem diferente pelos dois competidores. Para o FC Porto, que acabou de se sagrar campeão nacional pela 29ª vez, esta é a oportunidade de acabar a época em beleza, conseguindo uma dobradinha inédita. É verdade que os dragões já conseguiram juntar na mesma época os títulos de campeão e vencedor da Taça por seis vezes no seu historial, mas nunca contra o eterno rival. E há sempre uma primeira vez para tudo… Até para Sérgio Conceição vencer, enquanto treinador, uma final da Taça de Portugal, sendo que perdeu as duas que já disputou, tal como aconteceu na Taça da Liga. No seu currículo só existe uma vitória numa final, a da Supertaça, frente ao Aves, em 2018.
Defesa da honra
Para o Benfica, por seu lado, uma vitória no sábado seria a única maneira de terminar de forma digna uma temporada dececionante. É verdade que começou de forma espetacular, há quase um ano, com uma vitória por 5-0 sobre o Sporting, na Supertaça, mas, o que se seguiu foi desastroso: depois de acabar a primeira volta do campeonato com sete pontos de avanço sobre o FC Porto, a equipa encarnada viu a vantagem esfumar-se até à paragem por causa da pandemia. E, mesmo depois, desperdiçou todos os deslizes do rival, acabando por terminar a competição com cinco pontos de atraso. Por isso, vencer o FC Porto na final da Taça de Portugal seria uma forma de lavar a face e, no fundo, cumprir uma tradição, que é a de evitar a dobradinha do adversário. Com efeito, em três das oito vitórias em finais contra os dragões o Benfica conseguiu evitar que eles juntassem a Taça ao Campeonato.
Dobradinha, sim ou não?
Já o contrário aconteceu. Das onze vezes em que no seu passado o Benfica conseguiu chegar à dobradinha, duas delas foram quando tinha pela frente o FC Porto. A mais marcante de todas terá sido, talvez, a que ocorreu em 1983, ano em que, tal como agora, a final da Taça de Portugal se disputou apenas em agosto. Nessa ocasião, porém, não foi uma crise sanitária global a atrasar a realização da prova que costuma finalizar as temporadas de futebol no nosso país. Foi outra espécie de epidemia, uma que afeta o desporto-rei em Portugal há demasiado tempo: a clubite. Nesse ano, a final disputou-se no Estádio da Antas, para gáudio de Pinto da Costa, que sempre se opôs à exclusividade do “estádio municipal de Oeiras” (assim chamava ao Estádio Nacional) e perante forte oposição do Benfica, que queria manter a tradição de jogar no Jamor. A polémica foi tal, que só a 21 de agosto se disputou o jogo decisivo, que acabaria por ser ganho pelos de Lisboa, com um golo de Carlos Manuel.
Aquela foi a última vez que a Final da Taça de Portugal não se disputou no Estádio Nacional. Até este ano, o mais atípico de toda a história do futebol mundial.