Aos 18 anos, mesmo que Yusra Mardini não ganhe nenhuma medalha nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, os primeiros a realizarem-se na América do Sul, a nadadora síria já ganhou a admiração do mundo. Para isso, muito contribuiu a sua história de vida com uma guerra civil pelo meio. Nascida em Damasco, desde os três anos que pratica natação, muitas vezes em piscinas nos telhados de prédios destruídos por bombardeamentos. “Às vezes não podíamos treinar por causa da guerra”, diz a atleta ao The Independent. “Outras vezes nadávamos em piscinas onde os telhados foram rebentados em três ou quatro sítios”.
Em abril de 2015, Yusra e a sua irmã Sarah saíram de Damasco, uma capital cada vez mais instável, onde a guerra já fez mais de 400 mil vítimas em cinco anos, viajando para o Líbano e Turquia, antes de tentarem chegar à Grécia. Meia hora depois de sair da Turquia, o motor do seu barco, com capacidade para seis pessoas mas que transportava 20, deu os primeiros sinais de falha. A maioria dos passageiros não sabia nadar, incluindo um menino de seis anos a quem Yusra fez algumas caretas e brincadeiras para ele não pensar que ia morrer. As irmãs Mardini e mais dois outros nadadores saltaram para as águas frias do mar Egeu e, durante três horas e meia, nadaram para puxar o barco para terra de modo a que a embarcação não afundasse. “Nós os quatro éramos os únicos que sabíamos nadar. Tinha uma mão com a corda amarrada ao barco e movia-me com as duas pernas e o outro braço.”
Depois de Lesbos, na Grécia, as irmãs Mardini viajaram para a Macedónia, Sérvia, Hungria e Áustria antes de alcançarem, em setembro, o destino final: Alemanha. Já em Berlim, Yusra foi posta em contacto com o clube de natação Wasserfreunde Spandau 04. Rapidamente, o treinador Sven Spannekrebs percebeu o seu potencial e começou a pensar levá-la aos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, em 2020. Mas a sua evolução foi muito mais rápida e já nesta edição do Rio de Janeiro entrou na equipa de refugiados. Treina entre duas e três horas todas as manhãs, frequenta a escola, e à noite volta a treinar. Segundo o jornal britânico The Guardian, as entidades sírias têm acompanhado a carreira da nadadora e pedem atualizações regulares.
Apesar de agora odiar o alto mar, estas memórias não são um pesadelo para Yusra Mardini. “Lembro-me de que sem a natação não estaria viva. Para mim é uma memória positiva”. “Quero que todos pensem nos refugiados como pessoas normais que tiveram as suas terras e as perderam, não porque queriam fugir e ser refugiados, mas porque têm sonhos nas suas vidas e tiveram de ir”, disse a atleta numa conferência de imprensa que anunciava o seu lugar na equipa. “Trata-se de conseguir uma nova e melhor vida e ao entrarmos no estádio estamos a encorajar todos a perseguirem os seus sonhos.” Depois de no passado sábado, 6, ter nadado os 100 metros mariposa, vencendo a sua série com o tempo de 1m08,51s, insuficiente para se qualificar para a semifinal, Yusra Mardini volta à piscina esta quarta-feira, 10, na prova de 100 metros livres.