O logotipo é bem explicito e diz, com simplicidade mas muita certeza, o nome da cidade e o ano: “Rio 2016”. Mas quem caminha pelo Rio, nas praças, avenidas e ruas onde os cariocas deambulam lentamente para o trabalho ou alegremente para um chope nocturno, dificilmente encontrará o mais pequeno sinal de que está na sede dos próximos Jogos Olímpicos e que estes vão iniciar-se dentro de pouquíssimos dias.
Não há memória, nas últimas duas décadas, de se assistir a algo de semelhante: no Rio, por enquanto, quase não se veem cartazes sobre os Jogos Olímpicos nem está montado um clima comercial na cidade de forma a tirar proveito da realização do maior evento desportivo do mundo. “Quando é que começam mesmo as Olimpíadas?”, é a pergunta que muitos cariocas fazem quando são interpelados sobre se apoiam ou não a realização dos Jogos na cidade.
Essa sensação começa a construir-se logo no aeroporto. Onde estão os anúncios habituais sobre a cidade olímpica, os rostos e corpos dos grandes campeões nas planetárias campanhas publicitárias? Pouco ou nada se vê. Depois, a sensação confirma-se quando passeamos pela cidade. Nas bancas, as capas dos jornais continuam a dar destaque aos novos desenvolvimentos da operação Lava-jato e ao impeachment de Dilma, remetendo as Olimpíadas para o espaço da foto do costume na primeira página. Nos bares e restaurantes não se vislumbram as inscrições com as tradicionais promoções olímpicas, com direito a bebidas mais baratas. Nas ruas veem-se até mais fardas militares e policiais do que dos voluntários, que costumam dar sempre um colorido especial à cidade anfitriã.
Só nas zonas da Barra, onde está o Parque e a Aldeia Olímpica, e de Copacabana, a mais turística e com mais hotéis, é que se percebe uma presença maior de símbolos olímpicos. Mas, mesmo assim, não passam de umas poucas bandeiras e de umas escassas indicações de trânsito. A única excepção é uma instalação feita de desperdícios de plástico, com os cinco anéis olímpicos, mesmo defronte do emblemático Copacabana Palace, onde os turistas (nacionais e estrangeiros) se amontoam para tirar fotos.
O clima geral que se sente é de grande indiferença. Para a maior parte das pessoas, parece que os Jogos são algo que não lhes diz respeito – “até porque não temos dinheiro para comprar ingressos para as provas”, diz a maioria. Mas todos os bares, restaurantes e discotecas da Lapa estavam superlotados no sábado à noite.
Esta indiferença, no entanto, não significa antipatia. Isso nota-se nas ruas e também nas colunas de opinião dos jornais, onde os colunistas pedem para que tudo corra bem, embora nunca o façam com grande entusiasmo. É um sentimento que me foi explicado, da melhor maneira possível, pela frase de Raul Santos, “pequeno empresário e surfista”, quando o encontro numa esplanada do bairro de Santa Teresa, com vista para o Pão de Açúcar, na manhã soalheira de domingo: “Olimpíadas? Torço para que dê certo, mas não participo”.
No entanto, nos próximos dias, ninguém é capaz de garantir que o clima se mantenha igual, mal a festa comece, a tocha chegue à cidade, e comecem a abrir as casas oficiais dos diversos países participantes. Mas por enquanto ainda é cedo: a zona onde o navio-escola Sagres vai ficar atracado, e a funcionar como Casa de Portugal, está a sofrer os últimos acabamentos. No domingo, 31, dezenas de operários por lá andavam a calcetar o passeio, a espalhar relva e a plantar árvores, enquanto outros montavam estruturas metálicas de apoio. Esta é a área do centro da cidade que sofreu maiores transformações, com a conquista de um longo corredor junto ao mar para usufruto da população. Por enquanto, apenas o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio estão ali em pleno funcionamento – e sempre com filas à porta. Todos os outros equipamentos estão ainda a ser acabados, mas muitos cariocas aproveitam as horas vagas para ir passear para o chamado Porto Maravilha – uma das obras mais emblemáticas da renovação da cidade e um dos principais legados que os Jogos pretendem deixar no Rio. Mas há factos incontornáveis: no domingo, milhares de pessoas andaram a passear pela Orla Conde, um passeio público de 3,5 quilómetros. No entanto, as funcionárias da loja oficial dos Jogos Olímpicos, ali instalada, apenas conversavam umas com as outras. Ninguém se aproximava para comprar o que fosse do Rio 2016, nem um pin para levar ao peito nem uma mascote para as crianças. Amanhã será outro dia?