O público britânico é, por tradição, conhecedor apaixonado da chamada “nobre arte”. Por isso mesmo, os mais de 10 mil espetadores que lotaram, na noite de quarta-feira, 1, um dos pavilhões do ExCel quase iam deitando a casa abaixo, perante a decisão dos árbitros em atribuir a vitória a Magomed Abdulhamidov, do Azerbeijão, no combate frente ao japonês Satoshi Shimizu, nos oitavos de final da categoria de 56 quilos. Durante vários minutos, os gritos de reprovação aliados ao bater dos pés no chão demonstraram bem a dimensão do descontentamento. Porquê? Exactamente por que todos viram aquilo de que o japonês se queixou amargamente aos jornalistas: “Como é possível?’ Estou chocado. Ele caiu tantas vezes. Numa das ocasiões, o árbitro deu-lhe quase 10 segundos para ele recuperar. Não é justo!”
A causa da polémica centrou-se totalmente no terceiro assalto, à entrada do qual o atleta azeri se encontrava a vencer por 12-5. Perante isso, Shimizu foi para cima do adversário com tudo o que tinha. E derrubou-o cinco vezes. Numa delas, o árbitro deu mesmo uma contagem de proteção de 9 segundos a Abdulhamidov e, a seguir, penalizou-o com a perda de dois pontos por combate passivo. Foi um assalto emotivo, embora só de um sentido, mas que galvanizou o público. Daí a surpresa geral, quando os juízes deram a vitória a um incrédulo e atordoado Abdulhamidov, por 22-17. Este resultado final significava na prática que os árbitros consideraram que os dois pugilistas tinham empatado o último assalto – o tal em que o japonês derrubou cinco vezes o adversário.
O Japão apresentou, de imediato, um protesto formal, com os seus delegados a exibirem publicamente os 500 dólares em dinheiro necessários para formalizar o pedido. A decisão do comité de apelo deverá ser conhecida nas próximas horas.
As polémicas no boxe prosseguiram, pouco depois, com a desclassificação, nos pesos pesados, do iraniano Ali Mazaheri, ao receber três avisos/faltas, no curto espaço de um minuto, no combate frente ao cubano José Laurdet Gomez. Mais uma vez, a casa ia indo abaixo, em especial porque ao ouvir o público a apoiá-lo o iraniano recusou-se, durante alguns minutos, a descalçar as luvas e colocar-se ao lado do árbitro para o gesto de levantar o braço ao vencedor. Acabou, depois, por abandonar o ringue, depois de cumprimentar os treinadores cubanos, mas recusando fazer o mesmo ao árbitro e ao seu adversário.
Mais caricato foi o combate seguinte, que não chegou a ter um único soco. O italiano Clemente Russo ficou sozinho no ringue porque o angolano Tumba Silva foi desclassificado porque se esqueceu de ir à pesagem antes do combate.
Na assistência desta noite da sessão de boxe estiveram dois antigos campeões do mundo profissionais de pesos pesados: o norte-americano Evander Holyfield e o canadiano Lennox Lewis, o qual se mostrou, em declarações aos jornalistas, muito desagradado com as decisões dos árbitros. “Fiquei muito bem impressionado com o talento dos pugilistas, mas muito preocupado com o sistema de pontuação. Nunca se percebe quem vai ganhar realmente o combate.”