Telma Monteiro não mudou só de categoria de peso, nos últimos quatro anos. A mudança foi muito mais profunda do que passar dos -52 kg para os -57 kg e do que a alteração de regras do judo que a forçaram a abandonar algumas das suas técnicas preferidas. “Ela está completamente diferente, muito mais focada e com muito mais maturidade”, diz quem a conhece bem e com ela conviveu quase diariamente neste ciclo olímpico: Rui Rosa, o seu treinador, que, há 12 anos, em Sydney, exercia as mesmas funções junto do tapete onde Nuno Delgado ganhou a única medalha olímpica do judo nacional.
O treinador sente que pode repetir, com Telma Monteiro, em Londres, a euforia que viveu na Austrália: “Foram quatro anos a treinar no máximo. Dois treinos por dia, estágios de grande nível e vitórias importantes no Campeonato da Europa, num Masters, no Grand Slam de Paris.”
Rui Rosa enumera as horas de treino, a preparação planeada e cuidada, o estudo aturado das adversárias, mas salienta sempre o mesmo ponto: “A Telma de hoje não tem nada que ver com a de há quatro anos. Está muito mais madura.”
Pode parecer um exagero, mas essa maturidade revela-se fundamental numa competição como os Jogos Olímpicos. Foi a falta dela que levou Telma Monteiro a convencer-se de que já tinha a medalha ganha mesmo antes de partir para Pequim. Um deslumbramento fácil e até compreensível, numa atleta então com apenas 22 anos, mas já recheada de títulos. Por isso, nas vésperas dos Jogos, dispersou-se por atividades nem todas compatíveis com a concentração de um atleta antes da competição mais importante da sua vida: demasiados compromissos publicitários, presenças em festas e cerimónias. Havia uma “medalha à espreita” e, para alguns, que então a aconselhavam, havia também um cheiro indisfarçável a dinheiro: Telma Monteiro tinha tudo para ser um bom negócio.
Quatro anos depois, ela parte para Londres com outras pessoas à volta dela, menos interessadas no “negócio” e muito mais focadas na competição, na necessidade de superação, cientes de que, no desporto, “nada se ganha sem esforço”. E por isso a jovem está diferente.
“A Telma encontra-se num nível muito alto e a treinar como nunca”, repete Rui Rosa. E recorda como isso ficou evidente nos estágios recentes, na China e na República Checa, onde estavam presentes muitas outras atletas, de todo o mundo, que também aspiram aos lugares cimeiros, em Londres. “Mas via-se muito bem quem se protegia e quem treinava mesmo a sério. A Telma ia para cima de todas, mesmo das mais pesadas, nunca virava a cara à luta.”
Essa determinação, num desporto de combate como o judo, acaba por ter também um efeito psicológico importante. Não só provou a Telma que está em grande forma, como as adversárias perceberam que ela vai lutar de “dentes cerrados”, pronta a usar a sua melhor arma: a explosão, a capacidade de desferir ataques potentes e rápidos, que tantas vezes lhe permitem decidir o combate logo nos primeiros minutos. Nisso, felizmente, ela não mudou.