Na altura com 26 anos, Sacheen Littlefeather teve apenas 60 segundos para falar sobre o que a levou ao palco onde decorria a cerimónia da entrega dos Oscars, em 1973. No momento em que Marlon Brando foi chamado para receber o Oscar de Melhor Ator pelo filme “O Padrinho”, quem entrou em cena foi a atriz indígena, pertencente às comunidades apache e yaquina, como uma forma de protesto contra a deturpação dos povos nativos americanos pela indústria cinematográfica dos EUA.
O próprio Marlon Brando tinha pedido a Sacheen que recusasse por si o Oscar, como uma forma de repudiar a atitude da indústria em relação aos povos indígenas. Na altura, Littlefeather teve de lidar com uma mistura de gritos de revolta e aplausos, tendo sido interrompida enquanto explicava porque é que o ator não podia receber o prémio. Agora, 50 anos depois, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas disse que Littlefeather sofreu abusos “injustificados” após fazer o discurso.
“Os maus-tratos que sofreu por causa dessa declaração foram gratuitos e injustificados”, escreveu David Rubin na carta de desculpas enviada em junho a Sacheen, quando ainda era presidente da Academia. “A carga emocional que viveu e o custo na sua carreira na nossa indústria são irreparáveis”.
“Durante muito tempo, a coragem que mostrou não foi reconhecida. Por isso, pedimos as nossas mais profundas desculpas e sincera admiração”, lê-se. Juntamente com a carta, a Academia divulgou que Sacheen foi convidada a discursar no próximo mês no museu de cinema da organização em Los Angeles, o Academy Museum of Motion Pictures, que prometeu enfrentar “a história problemática” do Oscars, incluindo o racismo.
“Em relação ao pedido de desculpas da Academia, nós, índios, somos pessoas muito pacientes, passaram-se apenas 50 anos!”, reagiu a ativista, ironicamente. “Precisamos de manter o nosso sentido de humor em relação a isto. É o nosso método de sobrevivência”, disse Sacheen Littlefeather. “É profundamente encorajador ver que muito mudou desde que não aceitei o Oscar há 50 anos.”