Em maio deste ano, um grupo de investigadores da clínica de reabilitação Delamere, no Reino Unido, publicou um estudo em que analisou mais de 2000 músicas para chegar a respostas sobre a presença de temáticas ligadas a sexo, drogas e álcool nas suas letras. Com o número de artistas estudados a chegar às duas centenas, eis cinco dos resultados mais interessantes da investigação.
1. A década de 2000 foi a que mais referências a álcool, sexo e drogas teve
Com quase 220 mil referências, as letras das músicas criadas entre 2000 e 2010 ocupam o topo do ranking das menções a estupefacientes, bebidas alcoólicas e relações sexuais, logo seguidas pelas canções da década de 1990 – como Erotica (1992) de Madonna ou I Wanna Sex You Up (1991) de Color Me Badd – com pouco mais que 130 mil referências. A fechar o pódio, surgem as canções da década de 2010 que, com êxitos como Drunk In Love (2013) de Rihanna ou Love the Way You Are (2010) de Bruno Mars, alcançam quase 110 mil menções.
Apesar de sucessos como Mr. Brownstone (1987) de Guns N’Roses e de Dead Flowers (1971) dos Rolling Stones, o estudo evidencia que entre 1930 e 1980 a inclusão de termos relativos a álcool, sexo e drogas em letras de músicas foi bastante inferior à que se verificou a partir de 1990. Na década de 30 apenas três dezenas de referências foram encontradas entre a amostra estudada.
2. A$AP Rocky lidera o ranking relativo a drogas e álcool
Com um total de 24 referências a estupefacientes e bebidas alcoólicas, o norte-americano A$AP Rocky alcança – sem surpresa – o primeiro lugar desta classificação, logo seguido do britânico Akala. No álbum At.Long.Last.A$AP (2015) do rapper de Harlem, o uso de drogas é mencionado em 16 das 18 músicas, com um especial relevo para o hit L$D, cujo título é tanto uma abreviatura do alucinogénio homónimo, como de “Love, Sex and Dreams”.
Ainda neste ranking, surgem outros nomes sonantes da música internacional, como Snoop Dog e Wiz Khalifa. Destaque, ainda, para Ice Club e para os Dead Kennedys que alcançam, respetivamente, 13 referências a drogas e 19 a álcool nas suas músicas. Com 11 menções a estupefacientes, o californiano Miguel fecha o Top 10.
3. Lady Gaga fica em primeiro lugar nas referências aos temas do amor e sexo, mas…
Êxitos como Sexxx Dreams (2013) ou Poker Face (2008) afastam qualquer admiração que pudesse surgir com o destaque de Lady Gaga na categoria de artistas com mais referências nas temáticas sexuais e amorosas – alcançou o topo da tabela com 95 menções. De qualquer das formas – e se este ranking for dividido em duas categorias: amor e sexo – a também atriz norte-americana fica longe do primeiro lugar dos pódios.
No caso do amor, os resultados da investigação dão a liderança da tabela a SZA e Whitney Houston, cada uma com 86 menções. A estas segue-se Beyoncé, com 85 referências, e só depois chega Lady Gagacom 75 termos relativos à temática romântica. Já no que toca ao tema do sexo, a coprotagonista de Assim Nasce uma Estrela – que alcança 20 menções – é precedida pelos Kiss, que ocupam o topo do pódio com 29 referências.
4. Sex, drugs and… hip hop e R&B
Se em tempos o lema “Sex, Drugs and Rock’n’Roll” foi uma verdade absoluta, hoje em dia o rock está longe de ser o género com mais referências a drogas ou a sexo nas suas letras. No tema do álcool e substâncias ilícitas, a investigação coloca o hip hop no primeiro lugar (com um total de 131 menções), logo seguido do grime e do country, cada um com quase 100 referências. O Rock surge no final da tabela (em nono lugar) com 14 termos relativos a estupefacientes e bebidas alcoólicas – abaixo dele encontra-se apenas o Indie, com o singelo número de 10 referências.
Já no que toca às temáticas do sexo e do amor, o pódio é liderado pelo R&B, que alcança o estrondoso valor de 844 menções e deixa bem distante o Pop – em segundo lugar, com 714 referências. Logo de seguida, sucessos como Best I Ever Had (2010) de Drake ou Love. (2017) de Kendrick Lamar e Zacari colocam o hip hop no terceiro lugar do pódio – arrecadou aqui 660 referências. Em sétimo lugar, surge o rock (com quase 380 menções) e, mais abaixo, encontra-se o Metal, que fecha a tabela.
5. A música é crucial no tratamento de adições mas também pode ser perigosa
Sendo utilizada há décadas como terapia cognitiva e de complemento à psicoterapia, a musicoterapia tem apresentado resultados bastante promissores no tratamento da toxicodependência e da dependência alcoólica. A investigação da Delamere revelou que os doentes que ouvem música durante o seu processo de reabilitação se mostram capazes de gerir convenientemente situações de stress e de ansiedade ao mesmo tempo que aumentam as suas capacidades de concentração e de trabalho. Martin Preston, fundador da Delamere, explica que a indústria musical tem uma impacto fundamental nos processos de recuperação dos doentes com problemas de adição a drogas e álcool. Mas ao mesmo tempo que pode ser utilizada como terapia auxiliar, a música – ao fazer referência a substâncias ilícitas – pode, também, facilmente levar a reincidências no consumo de drogas, bem como influenciar crianças e jovens a adotarem comportamentos de risco.