Esta quinta-feira, 14, será votado na Assembleia da República um projeto de resolução, apresentado por quatro deputados do Partido Socialista (PS), que propõe a transladação e concessão de honras de Panteão Nacional a Eça de Queirós.
No documentado apresentado, os deputados esclarecem que se trata de um “reconhecimento e homenagem pela obra literária ímpar e determinante na história da literatura portuguesa”. Acrescentam ainda que o projeto representa uma atitude esperançosa perante a obra de Eça, visto ser esta que “inicia milhares de jovens ao maravilhoso desafio da leitura, em Portugal e no Brasil”.
Em entrevista à VISÃO, o deputado José Luís Carneiro justifica a iniciativa com as características da própria obra do escritor, do qual, no ano passado, se assinalaram os 120 anos da morte: “Uma visão humanista de dignificação da pessoa humana e do contributo para a expansão da língua portuguesa”. O deputado do PS destaca também o trabalho de diplomata de Eça de Queirós. Baseando-se na sua própria experiência como secretário de Estado das Comunidades, durante o primeiro Governo de António Costa, José Luís Carneiro afirma ter testemunhado esse aspeto. “Dos sítios onde mais senti este apreço foi em Havana, num café chamado La Columnata Egipciana, onde ainda hoje se fomenta um culto pela personalidade de Eça”, afirma. Refira-se que, em Cuba, o autor de Os Maias teve um papel fundamental no processo da abolição da escravatura.
Por sua vez, o escritor Afonso Reis Cabral, membro da Fundação Eça de Queiroz (FEQ) e trineto do escritor, diz ver neste projeto a concretização da eternização de Eça. “Apesar de já ser eterno, facto provado por 120 anos de leituras, a ausência no Panteão Nacional falava muito alto”, nota o autor de O Meu Irmão.
Almeida Garrett, Sophia de Mello Breyner, Fernando Pessoa e Camões são alguns dos nomes da literatura portuguesa a quem as honras de Panteão Nacional já foram concedidas. Na opinião de Afonso Reis Cabral, Eça deverá ter um espaço entre eles. “Já vem tarde, mas é um reconhecimento necessário. Decerto que esta perceção sempre existiu nos leitores. Daqui a 100 anos, não sabemos como estaremos. Mas sabemos que a memória de Eça estará sempre assegurada”, acrescenta. E remata: “Associar esta cerimónia a outras iniciativas, nomeadamente em escolas, pode promover cada vez mais a leitura. Eça já é a porta de entrada para muitos leitores.” Recorde-se que, por ora, Eça está sepultado no jazigo de família, em Santa Cruz do Douro, Baião, junto à Fundação Eça de Queiroz.