Nasceu em Benguela, Angola, há 78 anos e é, atualmente, uma das principais figuras da literatura angolana e lusófona. Com uma vasta obra pelos campos do romance e do conto, o Prémio Literário Casino da Póvoa, entregue no âmbito das Correntes d’Escritas, não é o seu primeiro nem surge como surpresa. Já em 1997, ganhou o Prémio Camões pela totalidade dos seus títulos, tornando-se no primeiro angolano e apenas o segundo africano a ser distinguido com o galardão.
Agora, em 2020, é homenageado pelo seu romance de 2018, “Sua Excelência, de Corpo Presente”, que narra a conturbada história de um ditador africano defunto que, no momento do seu velório, descobre que consegue ver e ouvir tudo o que as mais derivadas pessoas ali presentes sussuram sobre si e sobre o futuro daquele país “imaginário”. Entre pensamentos infiltrados, vai recordando episódios da sua vida, desde as suas origens até à ascensão ao poder, nesta obra dita pela editora, Dom Quixote, como “uma crítica mordaz ao abuso de poder e aos sistemas de governo totalitários disfarçados de democracias”, que lhe rendeu o Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros.
O escritor estudou em Lisboa, passando inicialmente por um curso de engenharia, que acabou por deixar para se dedicar a uma ciência que definiria a sua carreira literária – a sociologia. Tal como dizia em entrevista, em 2013, “foi uma escolha consciente em que o objetivo último era a literatura”. Em 1963, tornou-se militante do MPLA e começou a ser um membro ativo da política angolana. Acaba por sair em 1982, mas é nesse momento que a sua obra deriva ainda mais para a crítica social e política, sob um véu de sátira que continua a caracterizá-lo hoje em dia.
Dos 15 títulos a concurso, a decisão do júri, composto pela ex-ministra da cultura Isabel Pires de Lima, o escritor português Valter Hugo Mãe, o espanhol Carlos Quiroga, a jornalista Ana Daniela Soares e a professora Paulo Mendes Coelho, foi unânime.
O prémio é entregue desde 2004, em anos par a prosa e em anos ímpar a poesia, a uma obra editada em Portugal, mas que pode ter sido escrita em espanhol. O ano passado foi o poeta Luís Quintais quem recebeu a honra, pelo seu livro “A Noite Imóvel”.
A 21ª edição do Correntes d’Escritas, que comemora a literatura ibérica, arranca esta quarta-feira, com a sessão de abertura liderada pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira. Tanto o Prémio Casino da Póvoa, como os outros galardões atribuídos no âmbito do festival serão entregues no sábado, dia 22, pelas 18h, no Cine-Teatro Garrett, na Póvoa de Varzim.