“Pela qualidade e diversidade, dá vontade de criar uma editora que apenas publique a sua obra. Seria casa de um único autor: Gonçalo M. Tavares”. Geraldo González, editor da Almadía, não esconde o entusiasmo com os livros do escritor português. Já publicou sete e não pensa parar, sobretudo agora que Portugal reforçou os incentivos à tradução, no âmbito da participação na FIL.
A relação com Gonçalo M. Tavares começou com a publicação de Jerusalén, a que se seguiu, a um ritmo regular, Agua, Perro, Caballo, Cabeza; Historias Falsas; Aprender a Rezar en la Era de la Técnica, Canciones Mexicanas e El Barrio y los Señores. O sétimo título foi lançado na FIL: Una Niña Está Perdida en su Siglo en Busca de su Padre. Com tantos livros, é o que se pode dizer um autor da casa. De resto, apenas outros dois autores têm tantas obras no catálogo da editora: Juan Villoro e Bernardo Esquinca, ambos mexicanos, o primeiro da Cidade do México, o segundo de Guadalajara.
Esta também não é uma ligação que se deva a um país ou a uma língua. “Na Almadía, vemos cada autor como um território único, uma singularidade”, explica Geraldo González. “E se publicamos mais autores de Língua Portuguesa é por pura coincidência, um sinal da qualidade dos seus escritores”, acrescenta. O primeiro a ser publicado foi Ondjaki, com Los Transparentes, romance distinguido em Portugal com o Prémio José Saramago. “Ao trabalhar vários registos, da oralidade pré-moderna à tradição ocidental, é um autor que se aproxima à sua maneira do realismo mágico que domina a criação da América Latina”, adianta o editor. “É um pouco artificial a separação de Portugal e do Brasil da restante literatura iberoamericana. Estamos muito perto. O afastamento é sobretudo político”.
Geraldo González não era grande leitor da Literatura Portuguesa. Agradece até à Almadía, onde trabalha há quatro anos, a descoberta de autores como Gonçalo M. Tavares, Ondjaki e José Eduardo Agualusa. Tem, como muitos estrangeiros, Fernando Pessoa como principal referência lusa, reforçada por artigos de Octávio Paz e de Jorge Luis Borges. Lido aos 20 anos, o poeta tornou-se nome incontornável da sua biblioteca.
Mais recentemente, cruzou-se com Eça de Queirós, mas só no cinema. “Nunca cheguei a ler o livro, mas lembro-me bem da polémica em torno da adaptação de O Crime do Padre Amaro”, diz. Realizado por Carlos Carrera, a partir do guião de Vicente Leñero, ambos mexicanos, embora tenha tido co-produção espanhola, francesa e argelina, o filme mereceu crítica da Igreja Católica, que chegou a clamar pela sua proibição. Resultado? É, até hoje, o maior sucesso de bilheteiras no país.
Num mercado dominado pelos grandes grupos editoriais, a Almadía é uma média editora. “Publicamos num ano o que muitos desses grupos lançam numa semana”, descreve. Com apostas seguras e várias parcerias, nomeadamente ao nível da co-edição, têm conseguido atravessar a crise que o sector atravessa. Desde 2013 que se publicam e vendem menos livros no México, uma situação agravada pelos fortes sismos de 2017. Contra o ataque sem tréguas do audiovisual, Geraldo González e a Almadía têm uma única estratégia: “Literatura de qualidade”.