Durante 15 dias, a diretora da FIL, Marisol Schulz, não tem um minuto livre. Sessões solenes, presenças institucionais, conferências, inaugurações, lançamentos, supervisão de todas as actividades, imprevistos. Mas tudo se faz, tudo se resolve sem alarme. Com uma equipa vasta e empenhada, a FIL não demonstra o esforço de organização que exige.
Não se sabe, por isso, se a presença de Portugal foi ou não mais trabalhosa do que a de outros países. “É sempre igual”, sugere Marisol Schulz, para logo acrescentar. “Ter Portugal como Convidado de Honra era desejo muito antigo”. A ideia tem quase 20 anos e José Saramago como o principal impulsionador. Após ter sido distinguido com o Prémio Nobel de Literatura, o escritor visitou a feira por duas vezes. Com Raul Padilla, presidente da FIL, teve várias conversas sobre a Literatura Portuguesa e a necessidade de a promover a nível mundial. Mas a oportunidade nunca chegou.
No cargo há cinco anos, Marisol Schulz tomou em mãos a tarefa. Contactou a embaixada, depois a Secretaria de Estado e o Ministério da Cultura e tudo se resolveu. Em boa hora. “A edição deste ano da FIL coincide com um grande momento para Portugal e para o México”, afirma. “É um excelente ponto de partida para estreitar as relações culturais. Tenho a certeza de que esta presença em Guadalajara vai ser a ponta de um icebergue, com repercussões a outros níveis, incluindo o económico.”
Mas que importância tem, afinal, a FIL? “É um enorme ponto de encontro”, diz Marisol Schulz. “Sendo a maior feira da América Latina, tem representantes de inúmeros países, de Espanha ao Chile, com uma forte componente de compra e venda de direitos de autor e literários”. O próprio José Saramago é um exemplo da força da FIL. “De tanto vir a Guadalajara tornou-se um fenómeno de vendas nos países hispanofalantes”, defende a diretora.
No fundo, a FIL é uma “porta de entrada” para o mundo hispânico. E a porta ficará sempre aberta? “Acredito que sim”, adianta Marisol Schulz. “Além de Pessoa, Saramago e Lobo Antunes, outros escritores começam a ser conhecidos no México e na América Latina, como Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto e Mia Couto, entre outros”. E não falta vontade de conhecer mais, assegura a responsável. É que entre as duas línguas, a portuguesa e a espanhola, há um romance e uma ligação muito fortes. “Mais do que a similitude linguística, há uma grande afinidade cultural”, afirma. “Por vezes sinto que a forma como os portugueses veem a vida é mais próxima da do mexicano do que é a do espanhol, por exemplo”. Em que sentido? “Na sensibilidade, na forma de receber, na atenção ao outro. Vou a Lisboa e sinto-me em casa”.
Já a caminho de outro compromisso, pedimos a Marisol mais um minuto para lhe perguntar: o que faz, afinal, uma boa feira? A resposta é pronta: “Um programa literário forte, este ano com mais de 700 escritores, vendas significativas para as cerca de 2000 editoras presentes, normalmente à volta dos 400 mil exemplares, e um encontro muito dinâmico entre profissionais do sector”.
E a FIL parará, algum dia, de crescer? “O que nos interessa agora é diversificar, chegar a pessoas com interesses diferentes”, adianta, dando como exemplos o salão gastronómico, lançado este ano, e o foco na Banda Desenhada, iniciado em 2017. “As formas de consumir cultura estão sempre a mudar, por isso temos de estar muito atentos.” O futuro passa pela inovação.