Então é assim: a estatueta do Oscar é banhada no mesmo ouro que permite aos telescópios detetar galáxias distantes.
Para as missões espaciais, o ouro apresenta particularidades que o tornam útil na observação do Universo. Por um lado, a capacidade de refletir comprimentos de onda infravermelhos da luz, permite detetar corpos celestes a grande distância. Por outro, “o ouro é realmente inerte. Não se oxida”, como refere Jim Tuttle, físico no Goddard Space Flight Center.
Por causa destas propriedades, o ouro constiui-se como um ótima ferramenta de bloqueio da absorção de calor radiante, que tende a ser um problema no espaço. Tuttle avança uma explicação: “quanto mais brilhante e mais reflexivo é algo, menos calor absorve da sua periferia”.
Como tal, o substituto do telescópio Hubble, o James Webb Space Telescope, incorpora uma quantidade considerável de ouro, não só nos espelhos principais mas também para revestir o tubo de refrigeração com cerca de 10 metros.
O método mais comum para o revestimento em ouro é por depósito de vapor, ou seja, o metal é aquecido num vácuo até passar ao estado gasoso, condensando posteriormente numa camada fina sobre a superfície.
O processo é altamente eficaz mas apresenta alguns inconvinientes. Por exemplo, o ouro perde alguma da sua reflexividade ao longo do processo. Além disso, o metal fica extremamente delicado depois de ser exposto a este método.
“Temos visto algumas vezes ao longo dos anos, que alguém põe um revestimento em ouro em alguma coisa, mas assim que o dobra, de repente uma camada inteira de ouro irá escamar”, diz John Gygax, engenheiro no Goddard Space Flight Center. Para além disso, os flocos resultantes podem interferir com instrumentos de elevada sensibilidade.
Os especialistas encarregues do design do telescópio queriam um método de revestimento em oura que não fosse suscetível aos problemas do depósito de vapor, isto é, que permitisse manter a alta capacidade reflexiva do ouro sem prejuízo da durabilidade do metal.
Como tal, as atenções voltaram-se para a Epner Technology, com base em Brooklyn, que trabalha com a NASA desde a década de 70 e que aperfeiçoou, nos anos 90, a técnica da galvanoplastia, isto é, o processo de aplicação de uma camada metálica sobre uma superfície, por meio da pilha galvânica, a que deu o nome de LaserGold. Desde então, tem usado esta técnica para os seus vários clientes, desde termómetros de ouvido Braun até a jóias de renda dourada.
Gygax lembra a hesitação sentida quando a Epner Technology deu garantias que o seu ouro nunca iria lascar. “Fizémo-los provar o que diziam, e eles fizeram-no.
O revestimento resultante deste processo era já mais forte e mais reflexivo que o ouro depositado em vapor, mas ambos os atributos viriam a ser melhorados através do trabalho da empresa na NASA. Uma das melhorias mais relevantes surgiu da necessidade da agência espacial em ter melhor reflexividade num espelho banhado a ouro para o Mars Orbiter Laser Altimeter, sem perder força.
Para atender às necessidades de ambos os projetos de exploração espacial, a Epner alterou os seus procedimentos patenteados para garantir a maior reflexividade possível, ao mesmo tempo que se atingisse uma rigidez 3 vezes superior ao ouro puro. O truque, Epner explica, estava em preparação. Porque o ouro permanece puro, a reflectividade permanece extremamente alta.
O truque reside na modificação da corrente elétrica para obter um átomo altamente compacto. Como o ouro permanece puro, a reflexividade permanece extremamente alta.
É aqui que entra o Oscar
Em 2016, a reconhecida durabilidade e brilho dos revestimentos a ouro da Epner, trouxe-lhe um novo cliente: a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. A surpresa da Academia ao saber que a técnica que David Epner lhes oferecida era usada pelo próprio há 3 décadas.
“Nós garantimos que nosso revestimento em ouro nunca vai sair”, diz Epner. Esta promessa culminou numa garantia vitalícia de reposição gratuita das estatuestas que apresentem sinais de de desgaste.”Isso é algo que nunca mais terei de cumprir”, afirma.