“Eu amo Portugal e qualquer pretexto é bom para regressar. E a prova de que fizemos bem em vir é que os espetáculos agendados estão já todos esgotados e vamos ter algumas sessões extra”, revela Gregório Duvivier à VISÃO. Na verdade, Portátil é um caso raro de sucesso de um espetáculo que esgotou todas as bilheteiras das várias cidades por onde vai passar (14, 15 e 16 dezembro, no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, 18 no TAGV, em Coimbra, 19 e 20, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, e 21, no São Mamede CAE, em Guimarães), ainda antes da primeira exibição.
Espécie de comédia sem rede, Portátil é um dos números mais difíceis e arriscados para qualquer humorista. Sem texto para decorar os atores têm de improvisar os diálogos após uma conversa com um convidado escolhido aleatoriamente da plateia. E isso, diz Duvivier, “é o que faz com que cada espetáculo seja totalmente diferente do anterior e do seguinte”.
Com música de Andres Giraldo, cabe ao trio da Porta dos Fundos – Gregório Duvivier, Luís Lobianco e Gustavo Mirange -, acompanhados do português César Mourão, conduzir uma história com princípio meio e fim que consiga arrancar gargalhadas da plateia. “É quase como jogar ténis, só é possível se estiver alguém do outro lado da rede para nos passar a bola”, descomplica o humorista português, mais do que habituado à arte do improviso, não apenas nos espetáculos da Comédia à La Carte mas também pela rubrica que tem agora na Rádio Comercial Rebenta a Bolha. “A escolha do César foi natural porque já conhecia o trabalho dele, sei que é um grande improvisador e vai entrar bem na peça”, garante Duvivier.
Depois de ter estado em cena no Brasil durante o último ano, Portátil permanece um desafio a cada sessão e Portugal promete até ser mais estimulante, garante o humorista. “Aqui o espetador é mais sincero que no Brasil. Lá há um recalque da tristeza, a situação social e política é muito dura e as pessoas tendem a fechar-se mais. Portugal, pelo contrário, está pronto para um humor mais denso. Há aqui uma liberdade maior para fazer este tipo de espetáculo e de humor”.
E há sempre espaço para os lugares-comuns, as histórias banais, mas também para algumas surpreendentes, como a daquela senhora de 90 anos que contou à plateia que tinha fugido da Alemanha nazi com apenas dez anos. E consegue-se fazer humor depois de ouvir uma história assim?
“Sim, é possível. A comédia corre sempre riscos e esse é um desafio interessante porque quando o tema é trivial não é tão emocionante. E eu gosto quando a peça toma cores diferentes”.