A identidade angolana tem sido a grande matéria-prima dos romances de Agualusa. No caso da Aline, também é uma fonte da sua música?
Aline Frazão: De uma forma diferente, porque recorro à música e não à literatura. As canções são sempre mais curtas, mas não faltam nelas referências históricas ou mais relacionadas com o presente. A atualidade política e cultural de Angola é tão frenética que acaba sendo provocadora.
José Eduardo Agualusa: Angola é um ótimo país para escritores e músicos.
Em que sentido?
JEA: Porque não lhe falta matéria, nem urgência. É a velha máxima de Tolstoi das famílias felizes não terem história. Portugal é hoje um país muito estável no contexto da lusofonia, a par de Cabo Verde, mesmo se os portugueses não têm essa noção. Talvez aqui possa haver carência de matéria ficcional… Em Angola as coisas precisam de ser ditas. É uma questão de urgência mesmo, que se nota tanto na música como na literatura ou nas artes plásticas.
Vê com esperança o futuro de Angola?
AF: Sim. Há muitas páginas novas a serem escritas. Não tenho uma visão maniqueísta… Tudo é mais complexo e subtil e por isso tão difícil de resolver. Há problemas históricos e económicos e falta de vontade política para os resolver. Mas estou otimista. Algumas janelas vão-se abrindo. E se não se abrirem temos de ser nós a escancará-las, construindo, pouco a pouco, através da cultura e de um ativismo mais assumido, o país que queremos.
Veja o vídeo de A Prosa da Situação, de Aline Frazão, nas Insular Live Sessions