Enquanto as minhas amigas gostavam das Spice Girls, eu ouvia o Fernando Maurício, a Beatriz da Conceição, o Alfredo Marceneiro. Comecei a cantar fado com cinco anos, numa festa de Natal na minha escola, no Alto do Pina. Cheguei a ser vítima de bullying por gostar tanto de fado…
Nunca pensei apaixonar-me tanto por um género musical sem ser o fado. Mas aconteceu. Fui ao Brasil com o espetáculo Sombras, do Ricardo Pais, em que participei, e… apaixonei-me pelo samba. Ajudou-me a descobrir-me mais. Senti que não me conhecia totalmente como cantora.
É verdade que este meu disco [Raquel] não é só de fado, mas quando há fado… é mesmo fado! Continuo a ser uma fadista tradicional e serei sempre. Não quero afastar-me da minha identidade. Costumo dizer que sou a mais velha das novas fadistas, porque comecei a cantar muito cedo.
Há oito anos que não gravava um disco, mas não estive parada este tempo todo… Aliás, fiz muitas coisas. A minha participação como júri em concursos de televisão deu-me muita visibilidade e cantei muito em Portugal. E no estrangeiro também, onde os concertos não dependem de ter um disco novo para apresentar…
Não gosto da expressão “novo fado”, prefiro dizer “fado contemporâneo”. E não me faz impressão nenhuma ouvir dizer que o fado agora é mais pop. “Pop” significa popular e isso não é, de todo, mau. Na verdade, nós, a nova geração de fadistas, não estamos a fazer mais do que sermos contemporâneos e isso sempre aconteceu na história do fado.
Não me deslumbro nem me dececiono, vivo um dia de cada vez. Tenho a consciência de que o mundo artístico, a indústria musical, é muito efémero. Mas não me posso queixar e não sinto essa grande competitividade de que muitas vezes se fala no mundo do fado e da música. Aliás, estamos a viver uma fase maravilhosa na música portuguesa… Acho que há público para todos. E eu sinto-me muito mimada.
Depoimento recolhido por Pedro Dias de Almeida