TOUMANI E SIDIKI DIABATÉ
FESTIVAL MÚSICAS DO MUNDO
SINES 25 DE JULHO
Os espetáculos de Toumani Diabaté com o seu filho Sidiki, transportam em cada acorde, a partir do Mali, uma tradição com séculos. Mas nada ali soa a velho.
Rapidamente somos transportados para uma espécie de transe hipnótico, sem tempo. Numa noite quente, num dos palcos de Sines, a cidade portuguesa que melhor rima com world music, este concerto tem tudo para ser memorável.
Há 71 gerações que a família Diabaté assegura a passagem de testemunho na arte de tocar kora instrumento de 21 cordas, entre a harpa e o alaúde, construído a partir de uma cabaça.
Toumani, conhecido como “o rei da kora” e descendente de uma família de griots (os depositários da tradição oral da sua cultura), começou a tocar kora aos cinco anos e nunca mais parou. Descobriu uma forma inovadora de tirar som deste instrumento de cordas e tem sempre sido capaz de unir tradição e modernidade num mesmo acorde.
Sidiki, o filho mais velho de Toumani, herdou o nome do avô (uma referência musical do Mali) e começou a tocar kora aos dez anos. Hoje, diz-se que personifica a entrada desse instrumento kora na era digital. Considerado um dos melhores produtores de hip hop do Mali, com um pé na Europa e outro em África, é também um ativista convicto.
Com o rapper Iba One, gravou On Veut La Paix, que se tornou num hino quando, em 2012, os militares religiosos que tomaram o poder tentaram proibir a música no Mali.
Em 2014, gravou com o pai Toumani & Sidki (World Circuit), o disco em que se baseia a atual digressão. Mas, na verdade, não era preciso nenhum disco para justificar, e dar forma, a um concerto destes dois.
THE JESUS & MARY CHAIN
NOS ALIVE
ALGÉS, 12 DE JULHO
Guitarras ao alto. E os cabelos também, para aqueles fãs dos The Jesus & Mary Chain que ainda conseguirem despentear-se valentemente, à maneira dos vangs e góticos dos anos 80 do século passado… Em novembro deste ano passam 30 anos sobre a edição de um disco marcante: Psychocandy.
O álbum de estreia dos escoceses, liderados pelos irmãos Jim e William Reid, mostrava ao que vinha logo desde os primeiros minutos (e ao todo não ultrapassava os 40, cabendo perfeitamente num só lado de uma cassete de 90 minutos, a pirataria da época…). Uma parede de guitarras em distorsão, ora estridentes, ora serenas, servia de tapete a melodias melancólicas. Ainda havia ali algo do punk mas anunciava-se um novo rock de guitarras.”Foi um pequeno milagre”, recordou William ao The Guardian, em 2014, antes de começarem estes concertos que percorrem todo o disco. “O meu filho de 14 anos faz-me perguntas sobre o Psychocandy e só consigo responder-lhe que não sei … Não sei bem como o fizemos, mas a verdade é que o fizemos, na verdade tudo poderia ter sido diferente.” Em 1985, depois do lançamento, era raro os concertos chegarem ao fim: álcool e drogas a mais, e uma plateia atraída pela fama (que ajudava ao proveito…) de caos instalado, eram rotina. Hoje não é assim, e pode-se esperar todo o alinhamento, do clássico Just Like Honey até It’s So Hard. Com todo o noise, distorsão e feedback a que temos direito.
MUSE
NOS ALIVE
ALGÉS, 9 DE JULHO
O novo disco dos britânicos Muse, Drones, tem lançamento marcado para esta sexta-feira, 5 de junho, o que torna mais apetecível e pertinente o concerto marcado para o primeiro dia do NOS Alive 2015.
Os Muse são um bom exemplo de banda “antes é que eles eram bons” capaz de atrair grandes ódios, mesmo daqueles que, no início, lhes deram atenção. A sua música foi progressivamente ganhando a ambição, a cada acorde, a cada verso, de ganhar espaço em grandes e épicos concertos de estádio, com muitas luzes e espalhafato à volta.
Um objetivo cada vez mais conseguido, sobretudo a partir da digressão do disco Black Holes and Revelations (2006). Com os The Killers ou os Coldplay decidiram entrar no campeonato da “melhor banda ao vivo do mundo”, sempre com muito respeitinho pelos campeões U2.
Para o seu novo álbum adotaram um discurso que o anuncia como um disco (sim, vamos dizer a palavra…) conceptual, e atento às grandes questões da contemporaneidade. No Twitter descreveram-no assim: “O mundo é dirigido por drones. Drones que utilizam drones para nos transformarem a todos em drones.
Este álbum explora a viagem de um humano, desde o seu abandono e consequente perda de esperança, à sua doutrinação pelo sistema para ser um drone humano e à provável deserção face aos opressores.” Ui. Toda esta temática hi-tech promete muito em termos de cenografia num concerto de grande escala e se há alguém que hoje se preocupa com isso são os Muse…
Por isso, não estranhem se, na noite de 9 de julho, em Algés, sentirem alguma coisa estranha a sobrevoar as vossas cabeças.
SÉRGIO GODINHO E JORGE PALMA
SUPER BOCK SUPER ROCK
17 DE JULHO
A estreia de Sérgio Godinho e Jorge Palma, juntos e ao vivo, fez-se em 2014, debaixo de chuva, na Festa do Avante!.
Na semana passada esgotaram três noites seguidas no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, e na programação do SBSR vão ter a responsabilidade de, no palco da MEO Arena, anteceder o concerto dos britânicos Blur. Dois dos mais importantes e criativos nomes da música popular portuguesa cruzam repertórios e imaginários e há até lugar para um tema novo, escrito propositadamente para este encontro (Caso Fora Esse Caso). Não se espera menos do que um permanente brilhozinho nos olhos, partilhado entre quem está no palco e na plateia, e muitas canções a ecoarem a várias vozes. Muito apropriadamente, vai poder ouvir-se, adivinhamos, uma versão enérgica do Elixir da Eterna Juventude…
CAMANÉ
BONS SONS,
CEM SOLDOS (TOMAR), 16 DE AGOSTO
Nenhum festival se compara ao Bons Sons, que durante quatro dias transforma toda a aldeia de Cem Soldos num festival que programa exclusivamente, em vários palcos, artistas portugueses dos mais variados géneros. O fado tem marcado presença e este ano, no Palco Lopes Graça, montado no Largo do Rossio, bem no centro da aldeia, as expectativas são altas para o último concerto do festival. Com disco novo, Infinito Presente, para apresentar e aquela voz que parece inventada só para cantar fado, a Camané bastará ser igual a si próprio para proporcionar uma noite memorável.
DEAD COMBO
NOS ALIVE
ALGÉS, 11 DE JULHO
Quando, em 2002, Pedro Gonçalves e Tó Trips inventaram este estranho duo, com um “cangalheiro” e um “gangster”, uma guitarra e um contrabaixo, de certeza que nem nos mais delirantes sonhos acreditaram que essa aventura os levaria tão longe.
O seu imaginário que cruza a sonoridade de westerns com uma melancolia muito portuguesa, também capaz de fazer a festa embalada por ritmos quentes, conseguiu mesmo conquistar admiradores para lá das nossas fronteiras. Faz todo o sentido encontrá-los no Palco Heineken do festival que mais estrangeiros consegue atrair.
CAETANO VELOSO E GILBERTO GIL
EDP COOL JAZZ
OEIRAS, 31 DE JULHO
O que acontece quando se juntam dois monstros da MPB no mesmo palco? A resposta vai ser dada pela Europa fora a partir de 25 de junho. O Parque dos Poetas, em Oeiras, recebe a penúltima data dessa digressão que celebra 50 anos de carreira de cada um (tudo somado, chamaram à tournée Dois Amigos, um Século de Música). Gilberto e Caetano nasceram no mesmo ano, 1942, e no mesmo estado, a Bahia. O concerto anuncia-se “intimista”, à base da voz e violão de cada um.
BENJAMIN CLEMENTINE
SUPER BOCK SUPER ROCK
LISBOA, 17 DE JULHO
Antes de mais, há a voz. Poderosa. Sincera. Genuína. Benjamin Clementine, 26 anos, é uma das grandes revelações dos últimos tempos e, por chegar aos palcos portugueses na altura certa para o conhecermos, este é um dos concertosmais aguardados deste verão.
Filho de pais ganeses, nasceu e cresceu em Inglaterra mas mudou-se para Paris aos 20 anos. Ouvindo-o percebe-se que refira como uma das suas influências a entrega total de Jacques Brel nas suas atuações que conheceu no YouTube. O piano minimalista e repetitivo de Erik Satie e as primeiras interpretações de Antony na televisão emocionaram-no quando tinha 15 anos e revelaram-lhe um possível sentido para a sua vida que, ouve-se nas suas letras autobiográficas, nunca foi fácil. Solidão, errância, sofrimento e exclusão são temas recorrentes. Ouvindo o seu álbum de estreia, At Least for Now, lançado já este ano, intui-se que este músico, esta música, tinha que fazer o seu caminho, mesmo que para isso tivesse que o desbravar sem facilidades. Foi o que aconteceu.
É mais um artista atual difícil de encaixar num só género tal como é difícil engavetar Leonard Cohen, Brel, Leo Ferré, Tom Waits… Nem jazz nem pop, nem clássica nem folk. Clementine parece decidido a ser um cantautor intemporal para o século XXI. E para isso, tem o essencial: a voz e as canções que, em palco, gosta de cantar descalço.
BLUR
SUPER BOCK SUPER ROCK
LISBOA, 17 DE JULHO
Não vai ser só, como aconteceu em 2013 no Primavera Sound, um desfilar de singles (mesmo aqueles de que já nem nos lembrávamos…) e uma onda nostálgica de regresso à última década do século passado em modo very british. Não, desta vez há música nova para apresentar. Mesmo que o público, muitas vezes, prefira ouvir os velhos hits (sempre nervosamente à espera do momento em que toca “aquela”…), para os músicos é muito mais estimulante ter novo material para mostrar.
E o disco que os Blur gravaram em Hong Kong e lançaram em abril deste ano tem muitos argumentos para brilhar ao vivo com destaque para Go Out, já uma das canções de 2015. Os tempos da guerra mais artificial do que autêntica, sabemos hoje entre os Oasis e os Blur ficaram lá muito atrás, e Damon Albarn revelou-se um músico com uma energia e curiosidade insaciáveis (ao contrário dos irmãos Gallagher, já agora…). Fez dançar meio planeta com os Gorillaz, entusiasmou-se com a música do Mali, onde passou várias temporadas, colaborou com Tony Allen no projeto The Good, the Bad & the Queen e, finalmente, em 2014, estreou-se em nome próprio, a solo, com Everyday Robots. Lançar um oitavo disco dos Blur era um risco (e, durante anos, um assunto tabu) mas os quatro músicos provaram, em 12 temas, que valia mesmo a pena arriscar.
TAME IMPALA
VODAFONE
PAREDES DE COURA, 20 DE AGOSTO
Muitas vezes, o que faz de mais um concerto, “o” concerto, é a sintonia entre música, músicos, público e o espaço à volta. Apostamos que o encontro dos australianos Tame Impala com a paisagem de Paredes de Coura e o seu já célebre anfiteatro natural pode ser épico e memorável.
2015 é ano de disco novo (Currents, com lançamento marcado para 17 de julho) para esta banda que acabou por se impor como líder de um movimento global que recuperou o psicadelismo colorido dos anos 60/70 para o século XXI.
O primeiro novo tema apresentado (Let It Happen) dura quase 8 minutos e, por incrível que pareça, é fácil imaginá-lo a ser prolongado por ainda mais tempo, o tempo de um concerto inteiro, num palco rodeado de verde por todos os lados, ao fim da tarde, com o sol a desaparecer no horizonte, ou, como será mais provável, numa bela noite de verão.
A experiência diz-nos que, por ali, a chuva, mesmo em agosto, é sempre uma possibilidade mas a mesma experiência também nos diz que nem sempre é suficiente para estragar um concerto.
Contas feitas, a relação entre as margens do rio Coura e a música planante e alucinogénia dos Tame Impala tem tudo para dar certo no último grande festival da temporada.