Gravado em 1971 e lançado no ano seguinte, Os Sobreviventes foi o disco de estreia de Sérgio Godinho, depois do EP Romance de Um Dia na Estrada. O álbum foi retirado das lojas várias vezes, numa altura em que a censura, no contexto da Primavera Marcelista, queria mostrar, ao mesmo tempo, maior abertura mas mais controlo da música popular cada vez masi crítica ao regime.
Num documento datado de 23 de abril de 1973 (muito depois da gravação do disco…) apenas quatro faixas d’Os Sobreviventes pareciam inofesnivas aos olhos dos censores – Que Bom Que É tinha uma “vincada intencionalidade política”, Que Força É Essa um sentido de “revolta” e A-A-E-I-O terminava em “reticências obscenas”. Segundo Sérgio Godinho, a Cantiga da Velha Mãe e dos seus dos Flhos, música de José Mário Branco (que também a inlcuiu no seu disco Margem de Certa Maneira, de 1972), arrepiou a editora sediada na Rua do Carmo: “Sentiram que estava muito no limite de não passar…”, conta Sérgio Godinho.
Uma canção podia inviabilizar todo um disco. Num relatório da Direção Geral de Informação (sobre o disco Margem de Certa Maneira) pode ler-se: “A apreciação isolada de cada um dos poemas pode resultar, nalguns casos, favoravelmente, a verdade é que, no entanto, deixam transparecer uma forma de subversão que devemos combater.”
Sérgio Godinho partiu para a Suiça em 1965. Lá, descobriu que os filmes de Ingmar Bergman que tinha visto em Portugal, tinham “uns 20 minutos a mais” e percebeu, à distância, o verdadeiro poder da censura no seu país. Voltou em 1974, já depois da Revolução dos Cravos.
Pela primeira vez, o cantor e compositor foi confrontado, só agora, e com a ajuda da VISÃO, com as apreciações da censura a cada uma das faixas d’Os Sobreviventes
Uma coleção não cesurada
Uma iniciativa da VISÃO em parceria com a Fnac revela-lhe alguns dos títulos que a censura política não permitia que circulassem em Portugal antes do 25 de Abril de 1974. Das histórias de José Cardoso Pires ou de Jorge Luis Borges às canções de José Afonso ou Chico Buarque, eis o que o regime não nos deixava ouvir e ler. Quarenta anos depois da revolução, celebremos a liberdade de expressão e a liberdade de pensamento
Sabia que livros tão importantes na literatura mundial como
Madame Bovary, de Gustave Flaubert, estavam proibidos, em Portugal, antes do 25 de Abril? Ou que canções como
Fado Tropical, de Chico Buarque, não podiam ser vendidas no nosso país? O regime político derrubado com a Revolução de 1974 impediu milhares de títulos de circularem e não apenas de autores nacionais. Os livros eram publicados, sem antes terem de ir à censura, mas podiam ser mandados apreender depois. Mais de 900 títulos de edição portuguesa foram proibidos, segundo uma recolha realizada pelo historiador José Brandão.
É esse mundo dos discos e livros proibidos que a VISÃO explora, a partir desta semana, e até ao final de abril, numa iniciativa conjunta com a Fnac, criando uma coleção de títulos proibidos, e revelando histórias relacionadas com essas obras. Assim, a VISÃO publicará um cupão que dá 10% de desconto imediato na aquisição dos títulos da coleção. Todas as semanas, serão indicadas obras diferentes que poderão ser compradas por um preço reduzido, ao apresentar o cupão em qualquer Fnac, até 31 de julho.
Esta semana, quem comprar a revista VISÃO, poderá o usar o cupão de desconto que publicamos na pág. 87 da revista aproveitando o desconto nas lojas Fnac (com exceção da fnac.pt) :
- Os Sobreviventes, Sérgio Godinho
- Margem de Certa Maneira, José Mário Branco
- Venham Mais Cinco, de José Afonso
- Os Vampiros, José Afonso
- Cantigas do Maio, José Afonso
- Antologia Chico Buarque 66/84
Eis os títulos das semanas seguintes:
LIVROS
10 de abril
Histórias de Amor, José Cardoso Pires
Luuanda, José Luandino Vieira
Gaibéus, Alves Redol
Manhã Submersa, Vergílio Ferreira
Esteiros, Soeiro Pereira Gomes
Novelas Eróticas, Manuel Teixeira-Gomes
17 de Abril
Antologia da Poesia Erótica, de Natália Correia
Praça da Canção, Manuel Alegre
Novos Contos do Gin, Mário Henrique-Leiria
Quando os Lobos Uivam, Aquilino Ribeiro
O Jogo da Cabra Cega, José Régio
Poesia Reunida, Maria Teresa Horta
24 de abril
Madame Bovary, Gustave Flaubert
Os Irmãos Karamazov, volumes I e II
Filosofia de Alcova, Marquês de Sade
O Erotismo, Georges Bataille
O Amante de Lady Chatterley, D. H. Lawrence
1 de maio
História Universal da Infâmia, Jorge Luis Borges
Mataram a Cotovia, Lee Harper
Corre Coelho, John Updike
Grande Capital, Triologia USA, John dos Passos
1919, John dos Passos
Dez Dias que Abalaram o Mundo, John Reed