Manoel de Oliveira, 105 anos, poderá começar a rodar ainda este mês, se as circunstâncias o permitirem, um novo filme – pode o JL revelar em primeira mão. No caso uma curta-metragem, O velho do Restelo, a partir da obra o Penitente, de Teixeira de Pascoaes. O Penitente é Camilo Castelo Branco, e no epílogo desse seu livro o autor de Marânus chama a atenção para o facto de não se tratar de uma biografia, ou de uma obra de crítica literaria, antes o seu objectivo ter sido apenas o de interpretar “o drama camiliano” (no entanto, o livro foi, de facto, apresentado como “uma biografia romanceada”). E segundo outro cineasta, António-Pedro Vasconcelos, que prefaciou a última edição (Assírio & Alvim) de O Penitente, Camilo visto por Pascoaes é “uma personagem saída da imaginação de Shakespeare ou de um Dostoievski, um eterno enamorado da morte e um irrdutível solitário”.
O guião e planificação são, como de hábito, do próprio realizador, e Manoel de Oliveira começou a trabalhar neles, apenas depois de ter terminado o seu último filme, O Gebo e a Sombra, de 2012. Segundo também apuramos, a nova curta do há muito mais antigo cineasta em atividade, terá como intérpretes quatro dos seus atores preferidos, e que mais com ele têm trabalhado: Luís Miguel Cintra, como Camões, Mário Barroso, como Camilo (personagem que já interpretou em O Dia do Desespero, também de Oliveira), Ricardo Trepa, como Quixote, e Diogo Dória, como Pascoaes. Na “conversa” entre essas várias figuras, deverão ser intercaladas imagens de outros filmes do realizador. O produtor é, como na sua última película, Luís Urbano, que igualmente tem produzido filmes de novos realizadores de sucesso, até internacional, como Miguel Gomes.
Recorde-se que Manoel de Oliveira, com uma vastíssima filmografia, na sua imensa maioria posterior ao 25 de Abril, isto é, depois dos seus 65 anos. Recentemente, esteve doente e internado, devido, nomeadamente, a problemas do foro cardiológico, e tem naturais problemas de locomoção. Mas, garantem amigos seus, continua excelente de “cabeça” e com a vontade de sempre de fazer cinema.
