E com o título e a frase acima fica quase tudo dito sobre este filme, que à revelia das regras e ensinamentos cinematográficos com mais de um século de prova de eficácia (“show, don’t tell”), mostra pouco e conta imenso, através da voz off de uma prima/amante de Roosevelt que foi mandada chamar à sua mansão de férias, em Hudson, para lhe fazer companhia – e também para cumprir expressamente o propósito de se amancebar com ele… Aliás, o encontro da prima (Laura Linney) com o presidente dos EUA (Bill Murray) dá lugar à mais “unromantic scene” que se poderá imaginar… Acontece que, além de todo o staff presidencial, da criadagem, da mãe do presidente, da mulher oficial, das amantes (pelos vistos também oficiais) estarão presentes os reis ingleses, na primeira visita (igualmente oficial) de sempre, em 1939, de um monarca em funções aos EUA. O famoso rei gago – que ganhou fama cinematográfica no oscarizado discurso do Rei- e a também famosa rainha mãe estão tensos com o ambiente selvagem – ou mais descontraído, vá. Mas na iminência da segunda guerra mundial, enfrentam aquela estranha tribo e o piquenique, cujo o objectivo parece ser humilhar o rei, forçando-o a comer cachorros quentes, além de assistir a uma desengraçada dança de índios. Os embaraços reais não são mais constrangedores que os presidenciais – ele tem de ser transportado ao colo, ou empurrado de cadeira de rodas. E quando o rei se queixa da sua gaguez, o presidente pergunta-lhe “qual gaguez?”, ele que teve poliomielite e todas as complicações inerentes. Pena que o guião seja tão convencional, os diálogos tão desinteressantes, os amores do presidente tão insípidos e que Murray não tenha emprestado qualquer carisma ao papel.
Hyde Park em Hudson
De Roger Michell. Hyde Park on Hudson, com Bill Murray, Laura Linney, Olivia Williams, Drama. Reino Unido. 2012