Quem está há mais de 30 anos à espera que Ridley Scott faça um novo Allien (1979) ou Blade Runner (1982), terá em Prometheus meia satisfação. Ou pelo menos a sensação de que nem tudo ficou perdido. Não se trata de nenhuma obra prima, está longe de ter o significado que Blade Runner teve para o cinema, mas é, no mínimo, um blockbuster de ficção científica de luxo. Ridley Scott ao seu melhor estilo. Ou melhor, no estilo que há alguns julgávamos ser o seu quando em meia dúzia de anos fez dois filmes estrondosos (na contabilidade geral são muito mais os filmes medíocres)
Em comum com Blade Runner – a sua obra prima absoluta – tem sobretudo uma dimensão metafísica da ficção científica. A investida no futuro serve fundamentalmente para esclarecer a existência humana. Ou, dizendo melhor, Prometheus alberga dois níveis de leitura. O primeiro, banal, à flor da pele, uma filme de ficção espacial, com emoções fortes, tecnologia 3D, mostrengos alienígenas, lulas gigantes, máquinas supersónicas (próximas da ficção científica dos anos 80). Enfim, o ótimo e proveitoso exemplo de cinema espetáculo. A um outro nível, abre espaço para as grandes questões da humanidade. A eterna busca humana do seu criador ganha aqui um sentido literal. E o que está em causa nesta aventura interplanetária, com raios e naves espaciais, são as respostas às grandes questões que, ao longo de séculos, os filósofos têm vindo a levantar. É como se Platão, Descartes, Kant e tantos outros tivessem a oportunidade de desvendar todas as suas dúvidas ou confirmar teorias, indo ao encontro de ideias e mitos, a bordo de uma nave espacial. O fim último desta grande expedição é o conhecimento. Esse é o lado mais prosaico que nos é dado pelo casal de arqueólogos, que descobre, de início, numa gruta, uma pista para seres superiores que seriam os pais do próprio Homem. A viagem como que interroga a religião, revelando que o Céu existe fisicamente, pode chegar-se lá numa viagem terrena, só que não tem nada de paradisíaco.
Entre as motivações várias, um jogo complexo de personagens, com alguns estereótipos à misturas, quase obrigatórios nos blockbusters (como o comandante, os arqueólogos, a tripulação multirracial)… a personagem mais intrigantes, e também a melhor interpretação, é a do Cyborg David (Michael Fassbender é mesmo um dos melhores atores da atualidade). Uma espécie de espelho, que nós não queremos mirar, mas ele mira-nos a nós. O homem é o Deus de Michael e o seu Édipo. O seu presente é o nosso passado. O seu futuro é o nosso presente. As respostas às perguntas são novas perguntas. Com pinceladas, quase citações de vários filmes, não só Allien e Blade Runner, mas também 2001 Odisseia no Espaço (também pelo uso da música). Apercebemo-nos que se pode tratar de uma prequela de Allien ou de uma pré-prequela. Abre-se sempre o caminho para uma nova aventura no espaço. Prometeu, na mitologia, teve a ousadia de roubar o fogo (conhecimento) aos deuses. Prometheus é a nave que viaja por territórios interditos, das perguntas tabu, que vão para além do capacidade de compreensão do homem. Um grande e grandioso filme de ficção científica, que promete entretenimento total. Este é o Ridley Scott que gostamos.
Prometheus, de Ridley Scott, com Noomi Rapace, Michael Fassbinder,Charlize Theron, Idriz Elba; Guy Pearce, 124 min