Ainda faltavam algumas horas para as portas se abrirem e já os jardins à volta do Campo Pequeno estavam transformados num megapiquenique metálico. A ocasião não era para menos, afinal tratava-se do regresso aos palcos da mais internacional banda rock nacional, os Moonspell, que, este mês, editaram Alpha Noir/Omega White. O novo álbum duplo seria interpretado na íntegra mas também não faltaram os clássicos neste que foi considerado pelo grupo o seu “mais ambicioso espetáculo em Portugal”. Ao encontro de família, não faltaram os “primos estrangeiros”, fãs vindos de propósito dos quatro cantos do mundo e que, como sublinhou à VISÃO o vocalista Fernando Ribeiro, “são a maior prova do sucesso da internacionalização dos Moonspell”. Recebidos como convidados especiais pela banda, antes, durante e depois do concerto, foi como amigos que partiram, no dia seguinte, depois de um almoço de cozido à portuguesa, no estúdio da banda, em Olival Basto.
Lax Madapaty, 37 anos, gestor de marketing no Google, EUA
Corria o ano 1995, quando Lax se mudou, para estudar, da Índia para os EUA. “Fui a uma loja de discos, em New Jersey, procurar bandas do mesmo estilo que os Paradise Lost, de que eu gostava muito, e o tipo passou-me um CD promocional do Irreligious, por 2 dólares. Era algo de muito diferente do que até então tinha ouvido, muito melódico. Não é muito fácil para mim gostar tanto de uma banda, mas quando isso acontece compro tudo. Por coincidência, a primeira vez que os Moonspell foram tocar aos EUA, deram um concerto em Randolph, onde eu vivia. Adorei. Anos mais tarde, fui vê-los em Nova Iorque, quando aí tocaram com os Opeth. A meio do concerto dos Opeth, olhei para trás e estava um tipo alto, que reconheci imediatamente, era o Fernando. Meti conversa e ele foi muito simpático. Falámos um pouco, convidou-me para sair com eles, depois do concerto. É um tipo fantástico. Acabei por jantar com a banda e, depois, fomos beber umas cervejas ao tour bus deles! Até pedi ao Fernando para me ligar para casa e deixar uma mensagem no atendedor, que ainda lá está, passados 11 anos! (risos) Anos mais tarde pediu-me amizade no Facebook, que outro músico faz isso? Sempre os quis ver na sua cidade e era agora ou nunca. Tirei férias e vim, este ano estas vão ser as minhas férias, e que férias…”
Rita Landeiro, 39 anos, ex-professora e “mãe a tempo inteiro”, Argentina
Apesar de terem tocado várias vezes no seu país natal, foi só após ter-se mudado com a família para Espanha, que esta antiga professora primária viu, pela primeira vez, ao vivo a banda portuguesa. “Foi num concerto promovido pela Câmara Municipal de Pontevedra, na Galiza, onde agora vivo. Gosto de muitos estilos diferentes, não só de metal, mas aquele foi um momento muito forte para mim, porque eles reúnem, na sua música, muitos dos meus gostos, têm o equilíbrio musical perfeito. Conheci o Fernando Ribeiro e o baterista Mike Gaspar há dois anos, em Lisboa, depois do concerto dos Metallica no Pavilhão Atlântico. Estava com o meu marido, que também é de Buenos Aires, tirámos algumas fotos e ficámos à conversa sobre a Argentina, que eles conhecem bastante bem.”
Miguel Canessa, 33 anos, engenheiro civil e responsável pela inovação e novos projetos num banco, Chile
Foi no improvável cenário das Caraíbas que Miguel conheceu, pessoalmente, os seus ídolos, durante o cruzeiro 70.000 Tons of Metal, que junta, anualmente, diversas bandas para uma semana de concertos em alto mar. “Vi-os tocar lá e, um dia, encontrei o Ricardo [guitarrista da banda] no bar, que me batizou de ‘Capitan Chile’, porque eu andava sempre com uma bandeira do meu país nas costas. Acabei por conhecê-los a todos e, no último concerto que deram no cruzeiro, até me dedicaram uma música! Sempre que foram ao Chile fui vê-los, já os vi tocar sete vezes. É a minha primeira vez em Portugal. Há muito que queria vir conhecer o País e esta foi a oportunidade perfeita. Estive ontem com a banda, no ensaio para o concerto. Até me deixaram tocar duas músicas com eles, porque também sou baterista. São pessoas muito próximas, o que não é habitual numa banda desta dimensão. Para além de bons músicos, são boas pessoas… Aliás, já não os vejo como ídolos, mas sim como amigos. Os portugueses deviam estar orgulhosos dos Moonspell, creio que cá não têm bem a noção de quão grandes eles são. No Chile, há uma banda de tributo aos Moonspell, que esgota as salas, quando toca.”
Cristiana Cristian, 34 anos, professora de latim, Roménia
Foi um amigo romeno que trabalhava em Portugal quem, pela primeira vez, lhe apresentou a música dos Moonspell, em 1998. “O disco era o Wolfheart e fiquei fascinada pela canção Alma Mater, não entendia a letra, mas adorei. Quis conhecer mais, mas a internet só começou a espalhar-se na Roménia há cerca de cinco anos. Mesmo assim, ouvi-os uma vez, numa rádio de Bucareste, por altura do Irreligious. Queria comprar os discos, mas não sabia onde os encontrar… Conheci-os pessoalmente o ano passado, num festival de música, na República Checa. Mandei um mail à banda, a dizer que estaria presente e eles convidaram-me para ir ao camarim, onde entrei muda, não conseguia dizer nada (risos). Mas o Fernando é um cavalheiro e pôs-me logo à vontade. Acabei por ver o concerto no palco. Esta vinda a Portugal é a realização de um sonho, um daqueles momentos que muda a vida de uma pessoa. Foi a primeira vez que andei de avião e vou ficar duas semanas, em casa de uma amiga portuguesa, que trabalha com a banda. Hoje, já quase tenho mais amigos em Portugal do que na Roménia. Tenho uma página dedicada a eles e sou a responsável pelo clube de fãs da Roménia. Já lá tocaram quatro vezes e vão voltar, este ano. Só falhei o primeiro concerto, porque estava grávida.”
Maria Carolina Dávila, 30 anos, jornalista e bolseira universitária em Madrid, Colômbia
Foi já depois da primeira vista dos Moonspell ao seu país, em 1998, que esta jornalista colombiana ouviu a música dos Moonspell. Conheceu pessoalmente a banda num encontro com fãs, no final de um concerto, na Colômbia. “Comecei pelo Wolfheart e, pouco a pouco, fui entrando no universo da banda, em especial com o Memorial, que me encantou. Pensei que nunca mais voltariam ao meu país, mas quando, em 2009, estiveram na Colômbia fui finalmente vê-los ao vivo.Comecei a acompanhar tudo o que tinha a ver com a banda: discos, projetos paralelos, os livros de Fernando Ribeiro. Comecei a estudar português, para poder participar no fórum dos fãs portugueses e, por causa dos Moonspell, apaixonei-me por Portugal e pela cultura portuguesa. Conheci a música dos Madredeus, do Rodrigo Leão, o fado… Já sou quase portuguesa, como costumam dizer os meus amigos. Sou a responsável pelo clube de fãs da Colômbia e foi assim que fui conhecendo outros fãs de todo o mundo. Organizei este encontro em Lisboa dos fãs internacionais – foi fácil, porque já nos conhecíamos quase todos da internet. O mais impressionante nos Moonspell é que eles têm uma verdadeira memória dos fãs que vão conhecendo e criam uma relação pessoal connosco, o que não é nada normal numa banda desta dimensão.”