Como nos alcoólicos anónimos, para a terapia fazer sentido é preciso começar por admitir: nos idos dos anos 80, quando não havia alternativa, tudo quanto era família portuguesa tinha este vício televisivo de assistir aos episódios de Os Marretas, em que as celebridades faziam o seu respetivo cameo, nomeadamente em números musicais, rodeados por estas criaturas de espuma e olhos salientes, fantoches sem fios, criados pelo lendário Jim Henson. Porque só a partir desta assunção se pode avaliar se a adesão ao filme do Cocas, Miss Piggy & Companhia é ou não apenas uma manifestação de nostalgia pop. Claro que a intenção é justamente explorar este sentimento muito proveitoso em termos de box office. Que neste caso, oferece o valor acrescentado de pais e avós poderem arrastar as crianças seduzidas pela bonecada e pela infantilidade desarmante do guião (o filme está classificado para seis anos e existe uma versão dobrada). Muito embora se acrescente que a geração do digital possa estranhar a pobreza dos efeitos (os marretas limitam-se a abrir e fechar a boca e dar uns solavancos como as marionetas) – para manter o velho charme, os produtores decidiram apenas recorrer ao controlo remoto e a baterias instaladas nos bonecos, deixando de lado qualquer tipo de animação computorizada. Já houve inúmeros filmes e telefilmes que exploram o “filão-Marreta” – alguns já sob a chancela da Disney – mas há doze anos que não os instalavam no seu próprio teatro, onde os velhotes rabujentos (lamentavelmente quase esquecidos nesta versão) ocupavam um camarote. Os nostálgicos vão gostar de se reencontrar com o Cocas que vive deprimido na sua mansão. De saber que a Miss Piggy é editora da Vogue em Paris, que o baterista animal está na rabilitação e que o urso Fozzie actua com uma banda de tributo e continua a dizer piadas do género, “sabem qual é a capital das omeletes? Moscovo”; ou “como se chama um centro comercial chinês? Chao-ping”. E que apesar do que dizem os mauzões – os homens do petróleo e os executivos de televisão – (“que os marretas são relíquias e já não têm valor de mercado” ), basta-lhes a “Mahnamahna song” para lhes insuflar oxigénio.
De James Bobin, The Muppets, com Amy Adams, Jason Segel, Chris Cooper, Emily Blunt, Mila Kunis, Selena Gomez, Zack Galifianakis (VO). Adriano Luz, Pedro Caeiro, Henrique Feist, Paula Fonseca, Carlos Freixo (VP) Comédia. 103 min. EUA. 2011