Presume-se que certas inquietações ganhem uma dimensão urgente com o avançar da idade, como a dúvida ancestral: o que acontece depois de morrermos? Haverá vida para além da morte? Clint Eastwood tem abordado a temática da morte de forma consciente e corajosa em várias obras da sua fase madura de realizador, desde as cinzas espalhadas pelo rio em As Pontes de Madison County, à eutanásia em Million Dollar Baby, filmando-se mesmo a si próprio num caixão na obra-prima recente Gran Torino. Mas nunca o tinha feito desta forma tão inequívoca, entre o espiritualismo e a transcendência. Tal como Dryer em A Palavra ou Visto do Céu, de Peter Jackson, só para dar um exemplo mais recente, a vida além da morte é aqui tratada de forma não lúdica, afastada da ideia de entretenimento (dos filmes de terror, de fantasmas, etc).
Eastwood, que herdou o argumento de Spielberg, constrói um multiplot em tríptico, em que as histórias das personagem, um vidente, uma jornalista que sobrevive ao tsunami e um miúdo que perde o irmão gémeo, convergem para o mesmo fim. A contrário do que acontece com Peter Jackson, ficamos sempre do lado dos vivos, não nos é dada a ilusão de como será o além, apenas a ilusão de que o além existe. E pelo lado dos vivos que a trama se constrói e o enredo se resolve. Ou seja, o que de realmente importante se passa no filme é do lado de cá. E se há moral a extrair é que é entre os vivos que se resolvem as vidas.
As três histórias que se constroem usam como base alguns clichés cinematográfico, que aos poucos se vão desvelando, pela arte e o gosto que Eastwood tem em contar histórias. Contudo há uma certa privisibilidade que enfraquece o argumento. Não é um grande Eastwood, mas consegue ser bastante mais interessante, em termos cinematográficos, que o anterior Invictus.